Por mais antigo que seja o período da história, o ato de “tomar” as refeições sempre foi uma atividade social/coletiva. Nos sítios arqueológicos mais antigos sempre são encontrados sinais de restos de fogueiras e alimentos em quantidade suficiente para demonstrar esta ação do grupo. Aliás, antes mesmo do domínio do fogo, sabe-se que a atividade extrativista era coletiva. Até mesmo, observando os nossos primos mais distantes, os gorilas e chimpanzés, notamos que também eles fazem suas refeições coletivas, sendo, segundo alguns estudiosos, fator de agregação do grupo.
Ao longo da história da humanidade as refeições coletivas sempre apareceram de diferentes formas e com diferentes nomes. Jantares, banquetes, piqueniques, saraus, festas, convescotes (usado no livro TRICOL), ágapes. Nos momentos mais importantes da história tanto do ponto de vista político, como econômico e social, grandes e importantes decisões foram tomadas antes, durante ou depois de refeições.
Os maçons operativos costumavam realizar suas refeições nos próprios canteiros de obras, nos intervalos e após os trabalhos. Costume este que percebemos em qualquer construção aqui em nossas cidades. Esta, entretanto, não era uma característica apenas dos pedreiros. Em todas as profissões, do tropeiro ao pastor, do madeireiro ao construtor, dos monges aos soldados, as refeições coletivas existiam e existem e contribuem para agregar a coletividade. Mas voltemos à maçonaria. Comer e beber juntos sempre foi importante para a maçonaria. Em todas as Lojas de todos os países, as decorações dos pratos, copos e outros utensílios utilizados nas refeições com símbolos maçônicos e brasões de Lojas demonstram a importância deste convívio para os Maçons. Chama a atenção a palavra convívio, que no sentido etimológico tem o mesmo significado de banquete, esta última, palavra de origem francesa, devido à utilização de pequenos bancos — banquete, banquetas — nas refeições.
Comecemos então a alinhavar os pensamentos. Convívio vem de viver juntos, com fraternidade. Significa, também, a refeição realizada em ambiente fraternal. Por outro lado “banquete”, na sua origem, não possuía o significado pomposo que tem nos nossos dias.
Poderíamos, então, até usar a expressão de “convívio ritualístico” para designar as refeições ritualísticas. O “Banquete Ritualístico” é uma das mais antigas e sólidas tradições maçônicas. A Constituição de Anderson contém inúmeras referências e descrições sobre estas refeições. Como muito das obrigações consuetudinárias ( o que tem por base, os costumes e prática, as quais não existem por escrito) vem desse documento, vamos transcrever uma das passagens, a que está na página 54 do documento original. Não é nenhuma das que tratam dos importantes banquetes anuais para a escolha do grão-mestre, mas uma passagem singela cujo objetivo é ensinar bom comportamento aos Irmãos, e onde a refeição aparece como algo normal e cotidiano nas reuniões maçônicas: “Conduta depois que a Loja terminou e antes que os Irmãos saiam.” “Podeis diverti-vos com brincadeiras inocentes, tratando-vos uns aos outros segundo vossa maneira, mas evitando todo excesso, não forçando um Irmão a comer ou beber além da sua inclinação, e não o impedindo de sair quando seus negócios o chamarem, nem fazendo ou dizendo algo de ofensivo, ou que possa impedir uma conversação fácil e livre; pois isso destruirá nossa harmonia, e fará malograr nossas louváveis finalidades.”
Lembremos o primeiro milagre de Cristo, aquele que o tornou mais conhecido - o milagre do Vinho, nas bodas de Canaã. Em seguida a multiplicação dos peixes e pães. Mais do que o milagre, “ eu quero reforçar a existência da refeição coletiva” após a pregação do sermão da montanha. Por fim, suas últimas instruções aos apóstolos, só poderiam ter tomado lugar na “Última Ceia”. Como podemos ver, após a sessão vem sempre uma refeição, que precede aos Irmãos abandonarem o local de reunião. Não é por acaso que as quatro primeiras Lojas que formaram a Grande Loja da Inglaterra operavam nas Tabernas “The Goose and the Gridiron” (O Ganso e a grelha), “The apple tree” (A Macieira), “The Crown” (A Coroa) e “The Rummer and Grapes” (O Copo e as Uvas). No “Emulation Working”, mais conhecido entre nós como “Rito de York”, cada encontro é seguido por um Banquete obrigatório ou repasto fraternal. Já no R\E\A\A existe o ritual para os Banquetes Ritualísticos da Ordem, que é inspirado nas tradições das Lojas militares pré-revolucionárias da França. Nesta tradição tudo que está à mesa é comparado com assuntos e utensílios relacionados à artilharia. Assim, água é pólvora fraca, vinho é pólvora forte, copos são canhões e sal é areia. O Banquete Ritualístico é por vezes chamado de Ágape.
No Dicionário Aurélio lê-se: Ágape 1.Refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum. 2.Banquete, refeição de confraternização por motivos sociais etc.... 3. Ét.V.Caridade(1). Caridade [Do lat. caritate.]S. f.1. Ét. No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus; ágape, amor - caridade. No Dicionário Ilustrado de Maçonaria a definição para ágape é: “Banquete de Confraternização” que os primeiros cristãos adotaram para comemorar a última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos. Em certa época tal refeição era realizada diariamente e à noite. No ano de 397, a Igreja aboliu as ágapes sob a alegação de que os mesmos haviam se transformado em verdadeiros festins que fugiam aos princípios religiosos”.
A palavra ágape, em português, é admitida em ambos os gêneros, masculino e feminino. Em grego significa ternura. “A palavra ternura contém noções de afeição, amor e devoção. O equivalente Latino de ágape é caridade. Ágape é adequada para o amor fraterno, de irmãos, para um amor pacífico e ao próximo. Ágape é então dividir o alimento, do corpo, do coração e do espírito. E precisa ser realizado com prazer se é para ser compensador” .
Acredito que ágape, não seja apenas físico, e sim fraterno, estamos em comunhão, em repasto, quando compartilhamos a alegria e a dor dos IIr.´., vitórias, formaturas, casamentos, ascensões, ou quando estamos em uma egrégora de consternamento pela passagem de um
familiar querido, e até mesmo em uma cerimônia maçônica fúnebre, onde partilhamos o último repasto fraterno ao corpo do irmão conduzido ao oriente eterno.
Continuemos então nosso repasto fraternal, seja segundo tempo com; torresmo, futebol, quibe cru, docinho, seja como encontros mensais da família, festa oficiais e de gala, o tradicional bingo do Zeca, bem como um simples cafezinho ou visita, até um encontro informal.
José Castellani — Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico
Joaquim da Silva Pires — Rituais Maçônicos Brasileiros
Daniel Béresniak — Symbols of Freemasonry
Nicola Aslan - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia
Sebastião Dodel dos Santos — Dicionário Ilustrado de Maçonaria
James Anderson — Constituições dos Franco — Maçons ou Const.de Anderson de 1723
Dicionário Aurélio
Symbols of Freemasonry – Daniel Béresniak - TRICOL –A tríplice Coluna de diamante –Geraldo Faria- OS SETE MAÇONS (LMCT)
Ir.'. Geraldo Faria
Loja Maçônica Cavaleiros Templários
www.cavtemplarios.com.br
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