quarta-feira, 30 de outubro de 2013

ORAÇÃO AOS PRESTONIANOS

Por Kennyo Ismail

Meus Irmãos, devo lhes contar uma história. Uma história que não deveria ser contada. Uma história que, na verdade, não deveria ter acontecido. Ao ousar contar essa história, faço pelo mesmo objetivo da livre busca da verdade que motiva vocês, meus prezados Irmãos, a lerem estas palavras. Faço por acreditar na evolução da organização maçônica assim como na dos homens. Faço por não temer que palavras sejam escritas em vão. 
Não, meus Irmãos. Não é uma ficção. Gostaria que fosse. Nem tampouco é um exagero. Melhor seria. Tirar-me-ei o desejo de desabafar, próprio do escritor sozinho em silêncio, observando o compromisso solene da verdade, e nada mais que a verdade. E assim, que cada um de vocês, meus legítimos Irmãos, tão legítimos quanto aquele que nasceu do mesmo ventre que eu, possam compreender a verdadeira dimensão dos fatos que estou prestes a expor. 
Ah, quão bom seria se eu pudesse desabafar. Seria o desabafo de um maçom. De um maçom que ama a fraternidade. Que sente orgulho da Maçonaria, sua história e seus feitos. De um daqueles que respira Maçonaria com o peito inflado pela boa honra. Afinal, não é preciso elencar os momentos importantes de nosso país e do mundo dos quais nossa Ordem foi a responsável ou uma importante colaboradora. Sim, somos um belo sistema de moral. Sim, somos o berço da democracia moderna. E sim, colaboramos para a independência de nossos países. Honrar essa história é tão meu dever como honrar a de minha família, de meus ancestrais. Amo a Maçonaria como um filho ama sua mãe, como um soldado ama sua pátria. E é meu dever cuidar da Mãe Maçonaria como um filho adulto deve cuidar daquela mãe senhora que tanto o ensinou. 
Entretanto, se eu fizesse um desabafo, provavelmente cometeria o erro de derramar nele minhas percepções, meus valores, minhas opiniões. E isso carregaria o cenário onde os fatos estarão expostos de uma espessa bruma de mim mesmo, dificultando assim a mais clara, nítida, límpida visão dos mesmos. Assim, me aterei aos fatos, desejando que cada palavra que eu escolher sirva como um raio de sol a iluminá-los. 
A história que devo contar é a história de um maçom, de um de nós. Um irmão que ingressou jovem na instituição, entre seus 21 e 22 anos de idade, e que, com o passar do tempo, optou por seguir a vocação de professor. Inteligente e estudioso, esse irmão começou a realizar extensos e profundos estudos sobre a Maçonaria, inclusive trocando correspondências com irmãos de dentro e de fora do país. Com apenas 30 anos de idade, seus textos e palestras já eram largamente comentados nas Lojas. E a organização daquele conhecimento maçônico acabou gerando um livro, que foi muito bem aceito pela comunidade maçônica. 
Durante seus estudos, o Irmão pôde observar, entre outras coisas, que alguns maçons, tendo pouco conhecimento maçônico, têm total aversão àquilo que desconhecem e que, por desconhecerem, acreditam ser inovações. Outros, um pouco melhor informados, acabam por apresentar uma espécie de “ciúmes de preeminência”, ou seja, por serem mais antigos de Ordem, detentores de grau mais elevado ou algo parecido, se incomodam com o reconhecimento dado a outrem que, aos olhos deles, é inferior. 
Obstinado, o referido Irmão, idealizador de uma Maçonaria jovem e dedicada ao estudo, tratou de implementar essa ideia em sua Loja. Em pouco tempo, a Loja estava repleta de jovens promissores, com uma ritualística invejável e sempre palco de interessantes palestras e debates. Porém, essa mudança de paradigma, mesmo que em uma Loja somente, gerou grande descontentamento por parte dos maçons mais conservadores. 
Contando com uma pequena coleção de opositores, o protagonista desta história não se intimidou, dando prosseguimento em seus trabalhos em prol da Sublime Ordem. Mas mal sabia ele que um dos que mais se incomodava com sua jornada maçônica era ninguém menos do que seu próprio Grão Mestre. Homem vaidoso e pouco conhecedor dos ensinamentos maçônicos, seu Grão Mestre se irritava mais a cada viagem que fazia, tomando, dia após dia, ciência da relevância e da fama que aquele jovem maçom havia construído, sem cargos ou títulos. Além disso, o Grão Mestre nutria certa mágoa com nosso protagonista, por este não ter ajudado seu grupo na última disputa política que havia enfrentado. 
Conforme a inveja e a mágoa profanas foram consumindo o Grão Mestre, tornava-se crescente seu desejo de frear os avanços maçônicos de nosso protagonista. Até que, num belo dia, o Grão Mestre encontrou o que procurava. Um Irmão foi até ele para contar um pequeno ocorrido envolvendo nosso protagonista que, aos olhos daquele inconfidente, tratava-se de atitude cabível de discussão e, quem sabe, até mesmo punição. 
Era exatamente o que o Grão Mestre queria e precisava. Já com tudo tramado e arquitetado em sua mente pouco maçônica, ele conseguiu distorcer o incidente de tal forma a ponto de interpretá-lo como uma infração gravíssima, perseguindo e promovendo uma campanha difamatória contra nosso Irmão e gerando constrangimentos e transtornos a ele e a toda sua Loja. Para conseguir o que almejava, a manipulação da questão pelo Grão Mestre foi tamanha, que foi como transformar meia dúzia de passos discretos em uma procissão em praça pública. 
Não faltavam Irmãos de outras Lojas que procuravam nosso protagonista para consolá-lo com palavras de apoio, todos se dizendo revoltados com o abuso de autoridade e energia investida pelo Grão Mestre nesse caso em particular. Porém, o repúdio só não era maior do que o medo que tinham das represálias daquele governante com luvas de ferro. 
Mesmo grato pelas demonstrações de apreço de tantos Irmãos, nosso Irmão se entristecia a cada contato, a cada visita. Provavelmente, ele compartilhava do mesmo sentimento e opinião que dominaram Martin Luther King Jr., quando este registrou que “nossas vidas começam a acabar no dia em que nos calamos sobre as coisas que importam” e “no final, nós nos lembraremos não das palavras de nossos inimigos, mas do silêncio de nossos amigos”. 
Seguindo em frente, nosso Irmão protagonista enfrentou a acusação, ladeado por fiéis irmãos de sua Loja. Encarou o processo de cabeça erguida, defendendo-se como se estivesse num processo justo, mesmo sabendo que se tratava de uma tocaia cuidadosamente preparada pelo Grão Mestre para que ele não escapasse. E, logicamente, não escapou. 
Entretanto, o tempo é o senhor da razão. Em dez anos, lá estará nosso protagonista, pesquisando, escrevendo, pois o lobo pode perder seus dentes, mas nunca sua natureza. Já o Grão Mestre, ah, esse nem sequer seu nome será lembrado. 
Essa é a história da vida maçônica de William Preston, nascido em 1742, iniciado em 1763, que teve seu livro, “Illustrations of Masonry”, publicado em 1772, e respondeu a um processo disciplinar maçônico em 1777. Um dos personagens mais notáveis e respeitados na história da Maçonaria em todo o mundo, cuja obra influenciou quase todos os rituais maçônicos praticados atualmente. Foi também de Preston que partiu a iniciativa das Lojas saírem das tavernas e construírem espaços próprios. 
É como diz o velho adágio: “um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”. Dedico essa história a todos os Irmãos “prestonianos”.

sábado, 26 de outubro de 2013

MAÇONARIA E JUDAÍSMO (PARTE II)

por el M:.R:.H:. Guilherme Oak

Existem traços comuns entre os rituais, símbolos e palavras maçônicos e judaicos. Um dos landmarques judaicos é a crença num Deus que criou tudo na nossa exis-tência e que nos deu uma Lei para ser seguida, incluindo, ipso facto, os preceitos morais de relacionamento humano. A crença em Deus, a prece, a imortalidade da alma, a caridade, o agir respeitosamente entre os seus semelhantes fazem parte integrante do ideário maçônico - pelo menos da maçonaria teísta - como também do judaísmo, e por que não dizer de todas as grandes religiões do mundo (o budismo seria um caso à parte).
O judaísmo ensina que a Lei de Deus está contida na Torah (), a parte principal da bíblia judaica que contem os 5 primeiros livros de toda a Bíblia, como visto anteriormente, ou seja o Pentateuco dos cristãos. A tradição judaica ensina que a Torah é a eterna lei dada por Deus e é completa, nunca será mudada até mesmo por Deus e, obviamente, nunca poderá ser alterada por qualquer mortal. Já aqui surge naturalmente uma comparação com os landmarques maçônicos que preceituam não estar no poder de qualquer homem-maçom ou corpo maçônico fazer inovações na estrutura básica da maçonaria. Nos tempos modernos, ambas assertivas podem cheirar politicamente incorretas, apresentando um odor dogmático que repulsa as mentes liberais e tolerantes no limiar do terceiro milênio, mas convém salientar que isto se refere aos fundamentos que deverão permanecer intocados. Tanto que um dos livros clássicos de Pike se intitula Moral e Dogma. Assim maçonaria e judaísmo, tais como os padrões éticos das outras grandes religiões, ensinam que devemos nos auto-disciplinar e manter nossas paixões em constante guarda. O disciplinamento ritualístico, seja nas sinagogas seja nas lojas maçônicas, auxilia a desenvolver esta habilidade.
            Outra similitude poderá, também, ser encontrada na cerimônia da circuncisão e do Bar Mitzvah (). Logo após o nascimento de todo judeu homem, ele é circuncidado pelo rabino, ou seja é feito o corte no prepúcio do pênis do bebê, numa cerimônia familiar como um sinal ancestral de aliança entre Deus e patriarca Abraão. Treze anos depois, já adolescente, o mesmo judeu macho participa do Bar Mitzvah que consiste em aprender a recitar preces e passagens bíblicas em hebraico e a participar em rituais judaicos quando, enfim, adquire todos os direitos e deveres do homem judeu. Todos os maçons já fizeram, aqui, a comparação com a iniciação maçônica do profano e a exaltação ao grau de mestre quando se adquire a plenitude maçônica...
            No tocante à liberdade individual, maçonaria e judaísmo emulam para ver quem apresenta maior performance de respeito e apoio. Tal fato, contudo, não é exclusivo dos dois, pois o cristianismo apresenta, também, considerações profundas sobre o livre arbítrio, mas não é o caso de ser aqui discutido. O judaísmo ensina que todo ser humano é capaz do bem e do mal e tenta ajudar o fiel a usar o livre arbítrio para escolher o caminho eticamente correto. A maçonaria ensina que aqueles que são moralmente capazes podem encontrar a “luz” na maçonaria se eles desejarem isto por suas próprias vontades livres. Os maçons franceses, principalmente os do Grande Oriente de França, chegaram ao ponto de colocar como um dos seus lemas a liberdade absoluta de pensamento. O conceito de exercitar a vontade livre para aceitar a lei e a reparação pelas transgressões passadas é o que preconiza o Rosh Hashanah (  ) e o Yom Kippur ( ). Os judeus acreditam que dez dias no início do novo ano judeu devem ser usados para reparar os pecados passados e buscar a resolução firme de evitar o pecado no futuro. De modo análogo, a maçonaria ensina que todo homem deve lutar para crescer moralmente e livrar-se de todo preconceito. Não é atoa que a disputa entre a maçonaria francesa e a inglesa se dá entre a liberdade absoluta de pensamento, preconizada pelos franceses, contra o teísmo inglês que forçou a própria reformulação da Constituição de Anderson, quinze anos após a sua promulgação.
            A luz é um importante símbolo tanto no judaísmo como na maçonaria. “Pois o preceito é uma lâmpada, e a instrução é uma luz”, Prov. 6, 23. Um dos grandes feriados judaicos é o Chanukah (), ou seja o Festival das Luzes, comemorando a vitória do povo de Israel sobre aqueles que tinham feito a prática da religião um crime punível pela morte ali pelo ano 165 a. E. V. (Os judeus substituem o antes de Cristo e o depois de Cristo pelo antes e depois da Era Vulgar). A luz é um dos mais densos símbolos na maçonaria, pois representa (para os maçons de linha inglesa) o espírito divino, a liberdade religiosa, designando (para os maçons de linha francesa) a ilustração, o esclarecimento, o que esclarece o espírito, a claridade intelectual. A Luz, para o maçom, não é a material, mas a do intelecto, da razão, é a meta máxima do iniciado maçom, que, vindo das trevas do Ocidente, caminha em direção ao Oriente, onde reina o Sol. Castellani diz que graças a essa busca da Verdade, do Conhecimento e da Razão é que os maçons autodenominam-se Filhos da Luz; e talvez não tenha sido por acaso que a Maçonaria, em sua forma atual, a dos Aceitos, nasceu no “Século das Luzes”, o século XVIII.
            Outro símbolo compartilhado é o tão decantado Templo de Salomão. Figura como uma parte central na religião judaica, não só, por ser o rei Salomão uma das maiores figuras do panteão de Israel, como o Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são, simbolicamente, antes de tudo, construtores, pedreiros, geómetras e arquitetos. Os rituais maçônicos estão prenhes de lendas sobre a construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem três Salomões: o Salomão maçônico, o bíblico e o histórico.
            Outro traço cultural comum seria a obediência para com a autoridade. Max Weber propôs três tipos de autoridade: a tradicional, a carismática e a racional-legal. A primeira adstrita às sociedades antigas, a segunda referente aos surtos de carisma que a humanidade vive de tempos em tempos e a terceira, apanágio da modernidade. A tradição judaica ensina uma obediência respeitosa para com os pais e os rabinos. A maçonaria ensina, desde a Constituição de Anderson de 1723, o respeito para com a autoridade legitimamente constituída. (Este preceito é cristalino na maçonaria de cunho anglo-saxão, já os latinos, no embate contra o trono e a cruz...).
            Como último aspecto comum, tem-se os esforços positivos na maçonaria e no judaísmo para encorajar o aprendizado. A cultura judaica tem uma larga tradição de impulsionar o maior número de judeus a se notabilizar pelo conhecimento nas artes, na literatura, na ciência, na tecnologia, nas profissões em geral. Durante séculos, os judeus tem se destacado nos diversos campos do conhecimento humano e o seu empenho em melhorar suas escolas e seus centros de ensino demonstram cabalmente isto. Digo de notar-se é que as famosas escolas talmúdicas - as yeshivas - vem do verbo lashevet , ou seja sentar-se. Deste modo para aprender é necessário sentar-se nos bancos escolares. Assim também na maçonaria, nota-se uma preocupação constante, cada vez maior, com o desenvolvimento intelectual dos seus epígonos, no fundo, não só como um meio de melhorar a sua escola de fraternidade e civismo como também para perpetuar os seus ideais e permanecer como uma das mais ricas tradições do mundo moderno.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MAÇONARIA E JUDAÍSMO (PARTE I)

por el M:.R:.H:. Guilherme Oak

A tradição judaica não é dominada por muitos escritores maçônicos que, por isto mesmo, cometem muitos pecados de interpretação no tocante a sua influência na maçonaria. Antes de apontar a influência judaica na maçonaria seria interessante fixar alguns traços da cultura judaica, comumente desprezados, para não se incorrer em erros lamentáveis. Veja-se, por exemplo, as colunas do Templo de Salomão que estão citadas em Reis I, 7, 21: “Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual deu o nome de Jaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou-a Boaz”. Quando se pergunta a um professor de hebraico o que significa BOAZ , ele discorrerá sobre o significado e a tradução desta palavra. Se perguntarmos, ao mesmo professor, o que significa BOOZ, muito empregada pelos maçons franceses e repetida pelos brasileiros e que é uma corrupção de BOAZ, ele não saberá, obviamente, o significado da palavra, pois ela não tem nada a ver com o hebraico. Quanta discussão inútil se evitaria se se pudesse resolver a questão filologicamente.
            Os caracteres da escrita hebraica não possuem vogais. Normalmente são substituídos por sinais (massoréticos) que agem como vogais. Assim se um judeu religioso escrevesse o nome de Deus em hebraico no alfabeto ocidental soaria algo como: D--s ou N-ss-  S-nh-r, tomando todo o cuidado para não tomar o santo nome em vão. Os judeus pronunciam o nome de Deus de várias maneiras: El, Eloim, El Shadai, Adonai, etc. Contudo, o nome inefável de Deus [desnecessário dizer que o hebraico se lê da direita para a esquerda] raríssimamente é grafado (quando o é, normalmente para uso em pesquisa etimológica sobre a origem do Nome) ou pronunciado (sendo nestas pouquíssimas vezes, não é propriamente pronunciando e sim soletrado com as letras hebraicas: iod, hei, vav e hei). Em inglês, o nome inefável é transliterado como YHVH (Javé em Português como se verá a seguir). Os estudiosos cristãos ensinam que os judeus adoram Deus com um nome relacionado com a letra W. Tal fato se deve a dominação que os alemães exerceram no campo teológico nos últimos duzentos anos. O W em alemão é pronunciando como o V em português e inglês e o vav em hebraico. Os alemães também grafam como J onde encontram o iod hebreu ou o Y em inglês (tal letra inexiste no alfabeto português) quando ele ocorre. Assim YHVH apareceria como JHWH. A Bíblia de Jerusalém grafa como Javé e/ou Iahweh.
            A tradição judaica afirma que a atual pronúncia do Nome é um segredo para sempre perdido desde a destruição do Templo e é considerado impróprio tentar pronunciar o Nome. Quando o Nome ocorre em caracteres hebraicos deve ser usada uma palavra substituta, ou seja Adonai.
            Outro traço importante na cultura religiosa hebraica é o termo Bíblia. Claro que Bíblia é o têrmo português para a palavra hebraica Tanach . Tanach ou Tanack é um acrônimo construído pelas três seções da Bíblia: a Torah , ou seja a Lei, o Nevi’im , ou seja os Profetas e o Kesuvim ou Ketuvim , ou seja os Escritos ou os Hagiógrafos. Na versão moderna, constituem os 39 livros (considerando-se Samuel I e II e Reis I e II como livros separados) da Escritura Hebraica que, obviamente, os judeus não chamam de Velho Testamento. Aquilo que os cristãos chamam de Velho Testamento e Novo Testamento, os judeus chamam de Escritura Hebraica e Escritura Cristã. O cânon hebraico difere do cânon cristão por desconsiderar os livros escritos em grego e os suplementos gregos de Ester e Daniel. Para uma breve recordação, o cânon hebraico lista os seguintes livros:
·      Pentateuco: 1- Gênesis, 2- Êxodo, 3- Levítico, 4- Números, 5- Deuteronômio;
·      Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7- Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I e II), [posteriores]10- Isaías, 11- Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’ profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;
·      Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16- Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20- Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel, 23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas. 
            Aqui surge uma questão que agora poder ser respondida com maior conhecimento de causa. Quando um candidato maçônico judeu presta um juramento, a Torah deve ser posta no altar como Livro da Lei? Não. A Torah é somente uma parte da Bíblia judaica. Colocar a Torah no altar seria o equivalente para os cristãos de se colocar somente os quatro Evangelhos no altar, sem as Epístolas, o Apocalipse, etc. O Livro dos Profetas e os Hagiográfos assumem um importante papel na adoração judaica e no entendimento da lei judaica. A Torah é a mais importante seção da Bíblia, e é particularmente venerada, mas não é toda a Escritura.
            Seria, então, o caso de se colocar o Talmud no altar para os candidatos judeus? Aqui, convém, esclarecer que o Talmud é um livro de interpretação legal. O Talmud também ensina uma grande parte sobre o pensamento judeu e a crença religiosa, mas ele não é a Sagrada Escritura. As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino desempenham o mesmo papel numa relação similar com a Bíblia dos cristãos, contudo, também não são as Escrituras.
            Surge agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja? Aqui convém distinguir entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah), uma espécie de solidéu. O solidéu (solis Deo = só a Deus) designa o pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, a qual se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em diversos ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os Mestres em qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os Mestres em Sessão do terceiro grau. Geralmente tal cobertura é necessária e feita com o chapéu negro desabado, podendo-se todavia, utilizar o solidéu (que é o quipá hebraico) em Sessões do terceiro grau ou de Pompas Fúnebres. O judaísmo adota a prática oriental de cobrir a cabeça durante as orações como um sinal de respeito, enquanto nos países ocidentais, a prática é totalmente ao contrário: descobre-se a cabeça exatamente pela mesma razão. Algumas Obediências Maçônicas decidiram que o quipá (iarmulque [yarmulke], barrete, tiara, etc.) não é um chapéu no sentido maçônico, mas um elemento do vestuário. O R\E\E\A\adota a opinião que o barrete do rito não deve ser removido, por exemplo, durante a saudação da bandeira. Deve ser considerado, também em maçonaria, o barrete frígio, que era um pequeno boné de feltro, de forma cônica e com um pequeno rebordo, com o qual, na Antigüidade, o senhor cobria a cabeça do escravo na cerimônia de libertação e que era tomado como emblema de liberdade; graças a isso, ele é, em alguns ritos, um símbolo maçônico, já que a maçonaria sempre foi libertária.

            Uma última distinção deve ser feita sobre o diferente uso do conceito fariseu entre cristãos e judeus. O judaísmo moderno é farisaico no seu temperamento, mas os judeus não usam a palavra como um sinônimo de “hipócrita”. É provável que este último significado adveio de um conflito entre aqueles que escolheram seguir Jesus e Paulo e aqueles que permaneceram com o cerne da fé judaica. Naquele tempo, os fariseus dominavam o pensamento e a prática judaica e é melhor denunciar o farisaísmo como um desvio do pensamento judeu do que denunciar os judeus propriamente ditos, desde que os antigos cristãos almejavam converter os judeus. Os fariseus e os saduceus eram os competidores primários no pensamento e na prática religiosa dos judeus, embora houvessem outros grupos, como os essênios, buscando oferecer idéias diferentes. Os saduceus eram o partido da classe sacerdotal e mantinham a posição de que somente a Lei escrita deveria ser seguida à risca. Os fariseus conseguiam fazer uma combinação mais flexível entre a Lei escrita e a oral. Outra importante distinção era que os fariseus afirmavam que uma pessoa não deveria pertencer necessariamente à classe sacerdotal para bem cumprir os mandamentos e adorar a Deus. É esta última diferença que é a mais importante no desenvolvimento do judaísmo na sua forma para os últimos dois mil anos. Alguns autores fazem um símile entre este conflito e o da Reforma protestante, quinze séculos depois. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

MAÇONARIA NA CHINA

A Maçonaria chegou a China à bordo do navio Prince Carl, da Companhia Sueca das Índias Orientais. Os Maçons a bordo possuíam um documento que lhes dava permissão para realizar sessões em qualquer porto, dentre os portos estava o de Cantão (Guangzhou) na China em 1759. 
Registros da Grande Loja da Inglaterra mostram que a Loja Amity No. 407 realizava sessões em Cantão (Guangzhou), porem elas terminaram no final do século. Duas Lojas se estabeleceram em Hong Kong logo após os Britânicos terem adquirido o território. A Mais antiga chamada Royal Sussex Lodge No.501 EC (nome em homenagem ao Duque de Sussex, que foi Grão Mestre da Maçonaria Inglesa) fundada em 18 de Setembro de 1844. Posteriormente ela transferiu-se para Guangzhou, depois para Shanghai e somente retornou para Hong Kong em 1952. A segunda Loja, Zetland Lodge No. 525 EC foi fundada em 21 de março de 1846. 
O nome foi em homenagem ao Marquês de Zetland, o Grão Mestre sucessor. A Zetland Lodge permaneceu em Hong Kong desde a sua fundação. Outras Lojas se estabeleceram na China nos anos seguintes.Em 1853 os membros da Zetland Lodge construiram o seu templo na rua Zetland onde hoje esta o edifício New World Tower.
O templo da Zetland Lodge foi o primeiro em Hong Kong e tornou-se ponto de encontro das outras Lojas da mesma cidade. .Na China, outras Lojas Maçônicas foram estabelecidas em Shanghai, Ningbo e Tianjin. As lojas eram constituidas geralmente nos portos chineses, abertos às nações estrangeiras. Porém algumas também foram fundadas no interior dopais, como em Nanjing, Beijing, Harbin e Chengdu. Elas eram fundadas sob os auspícios de autoridades Maçônicas da Inglaterra, Escócia, Estados Unidos da America (EUA), e mais tarde das Filipinas. Em razão das restrições impostas pelo governo Imperial, era quase impossível um chinês tornar-se Maçom durante a dinastia Qing Dynasty. Porem, em 1873 o líder da Missão Educacional Chinesa em Massachusetts (EUA), foi iniciado. O primeiro Maçom chinês iniciado na China foi o Irmão Shan Hing Yung, um tenente da Marinha Imperial iniciado na Lodge Star of Southern China No. 2013 EC em Guangzhou em 1889. Outros Maçons também foram iniciado como Sir Kai Ho Kai e o honorável Wei Yuk, em Hong Kong.
No inicio da Guerra Sino-Japonesa, muitas lojas na china tinham chineses como a maioria de seus membros, especialmente sob os auspícios da Grande Loja das Filipinas. Durante a Guerra, os japoneses perseguiram os maçons nas áreas ocupadas. Porem as Lojas continuaram ativas. Várias Lojas de Hong Kong realizavam reuniões secretas sob condições de extremo perigo. Algumas como a Perseverance Lodge No. 1165 EC funcionaram em campos de prisioneiros (Prisão Stanley/ Stanley prison). Ainda hoje existe o Livro da Perseverance Lodge No. 1165 com atas do período.
Quando a Guerra terminou, as lojas chinesas reviveram. Porém, algumas mudaram-se para as províncias de Shanghai e Tianjin. O entusiasmo foi grande. Seis Lojas (pertencentes à Grande Loja das Filipinas), as quais tinham em sua maioria membros chineses fundaram em 1949 a Grande Loja da China. Com o estabelecimento da Republica Popular da China, algumas Lojas encerraram suas atividades. Ainda Hoje funcionam 37 lojas com 1500 membros no templo da Loja Zetland (reconstruído na década de 1950). Todas as Lojas funcionam sob os auspícios da da Grande Loja das Ilhas Britânicas, com alguma independência.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

VISITA ILUSTRE

Em nossa Sessão de ontem (22/10) recebemos a ilustre visita dos IIr.'. da Loja Parnamirim nº9, que nos brindaram com sua caridade e fraternidade, cumprindo aquilo que nossa Sublime Ordem prega: o amor ao próximo.
Concomitantemente, abrilhantaram a primeira reunião dos AApr.'. recém iniciados com uma brilhante instrução.
Como de costume, a integração entre nossas Lojas se mantém vigorosa. 

Foto extraída do blog da Loja Parnamirim nº9

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A CAMINHADA DO APRENDIZ

O tema do primeiro grau maçônico é a iniciação numa nova vida, ou seja, o nascimento do profano na Arte Real. Logo, o profano deve ser iniciado nos segredos maçônicos, o que significa criar, em si, por sua vontade e pelo seu espírito, um homem totalmente novo, melhor e capaz de se elevar espiritualmente, passando a agir segundo um novo ideal de vida.
A cerimônia de iniciação sugere um novo nascimento que objetiva levar o neófito a uma nova vida, para que ele aprenda que é preciso morrer para a vida profana, despojando-se de tudo que brilha enganosamente, do que traz proveitos fáceis, dos preconceitos, do orgulho e da vaidade. Neste grau, o maçom deve aprender a colocar em prática o primeiro dever do iniciado: trabalhar em si mesmo.
Bem como a calar, escutar, observar e meditar. Pois, na maçonaria operativa o aprendiz era o servidor dos mestres-de-obras, ele via e aprendia, e silenciosamente seguia as obras dos mestres, obedecendo-os e cuidando de seus materiais de trabalho.
Quando a Ordem maçônica tornou-se uma corporação regular o aprendiz devia submeterse ao perigo de provas físicas, que no atual Rito Escocês são em partes conservadas como um meio de exercitar a imaginação dos iniciados, para que eles sintam que os caminhos do saber são ásperos, íngremes e difíceis.
Atualmente, de acordo com os ensinamentos da maçonaria especulativa cabe ao aprendiz maçom o trabalho de desbastar a Pedra Bruta, isto é, desvencilhar-se dos defeitos e das paixões, para poder concorrer à construção moral da humanidade, o que é a verdadeira obra da maçonaria. Nosso ritual assim pontua: “Para que nos reunimos aqui? Para erigir Templos à virtude, e cavar masmorras ao vício.”
Assim, durante o interstício do grau de aprendiz os irmãos devem se dedicar a esses objetivos, ou seja, trilhar um caminho de observação e trabalho com o fito de obter o domínio de si próprio, com o único desejo de progredir na grande obra que empreendestes ao entrardes em nossa Ordem.
Para que, quando do término desse trabalho de aperfeiçoamento moral, simbolizado pelo desbastar da Pedra Bruta, tenha o aprendiz maçom conseguido pela fé e pelo esforço individual, transformá-la em Pedra Polida apta à construção do edifício social.
Nas palavras de Manly P. Hall, escritor maçom: “O aprendiz maçom precisa embelezar seu Templo. Ele precisa construir dentro dele, por suas ações, pelo poder de suas mãos e das ferramentas de seu ofício, certas qualidades que tornem possível sua iniciação nos graus mais elevados da Loja Espiritual.”
Assim, quando atingido esse objetivo comum, o aprendiz pode descansar o maço e o cinzel para empunhar outros utensílios e ter a consciência de que o início de seu trabalho de edificação do seu “eu interior” foi realizado. Tendo atingido esse ponto e feito o melhor que lhe foi possível, está em posição de ansiar que as forças que agem de forma misteriosa possam considerá-lo merecedor de avanças para o segundo grau no caminho do engrandecimento espiritual.
Ir.’. Rafael Luiz Ceconello M.’.M.’.
ARLS Fraternidade Universitária “Luz do Oriente”
www.revistauniversomaconico.com.br

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

MORAL E DOGMA

A Maçonaria possui em sua filosofia um ensinamento que pode ser expresso num simples ditame: "Proteja os oprimidos dos opressores; e dedique-se a honra e aos interesses de seu País". Maçonaria não é especulativa nem teórica, mas experimental, não sentimental, mas prática. Ela requer renúncia e autocontrole. Ela apresenta uma face severa aos vícios do homem e interfere em muitos de nossos objetivos e prazeres. Penetra além da região do pensamento vago; além das regiões em que moralizadores e filósofos teceram suas belas teorias e elaboraram suas esplendidas máximas, alcançando as profundezas do coração, repreendendo-nos por nossa mesquinhez, acusando-nos de nossos preconceitos e paixões e guerreando contra nossos vícios. É uma luta contra paixões que brotam do seio dos mais puros sentimentos, um mundo onde preconceitos admiráveis contrastam com práticas viciosas, de bons ditados e más ações; onde paixões abjetas não são apenas refreadas pelos costumes e pelos cerimoniais, mas se escondem por trás de um véu de bonitos sentimentos. Este solecismo tem existido por todas as épocas. O sentimentalismo católico tem muitas vezes acobertado a infidelidade e os vícios. A retidão dos protestantes apregoa, freqüentemente, a espiritualidade e a fé, mas negligencia a verdade simples, a candura e a generosidade; e a sofisticação do racionalismo ultra liberal em muitas ocasiões conduz ao céu em seus sonhos, mas chafurda na lama de suas ações.
Por mais que exista um mundo de sentimentos maçônicos, ainda assim ele pode ser um mundo onde ela esta ausente. Ainda que haja um sentimento vago de caridade maçônica, generosidade e desprendimento, falta a pratica ativa da virtude, da bondade, do altruísmo e da liberalidade. A Maçonaria assemelha-se aí às luzes frias, embora brilhantes. Há clarões ocasionais de sentimentos generosos e viris, um esplendor fugaz de pensamentos nobres e elevados, que iluminam a imaginação de alguns. Mas não há o calor vital em seus corações. Boa parte dos homens tem sentimentos, mas não princípios. Os sentimentos são sensações temporárias, enquanto os princípios são como virtudes permanentemente impressas na alma para seu controle. Os sentimentos são vagos e involuntários; não ascendem ao nível da virtude. Todos os têm. Mas os princípios são regras de conduta que moldam e controlam nossas ações. Pois é justamente neles que a Maçonaria insiste. Nós aprovamos o que é certo, mas geralmente fazemos o que é errado; esta é a velha história das deficiências humanas. Ninguém encoraja e aplaude injustiça, fraude, opressão, ambição, vingança, inveja ou calúnia; ainda assim, quantos dos que condenam essas coisas são culpados delas, eles mesmos.
Já nos foi dito: "Homem, quem quer que sejas, se julgas, para ti não há desculpa, porque te condenas a ti mesmo, uma vez que fazes exatamente as mesmas coisas."É surpreendente ver como os homens falam das virtudes e da honra e não pautam suas vidas nem por uma nem por outra. A boca exprime o que o coração deveria ter em abundância, mas quase sempre é o reverso do que o homem pratica. Os homens podem realmente, de um certo modo, interessar-se pela Maçonaria, mesmo que muitos deficientes em virtudes. Um homem pode ser bom em geral e muito mau em particular: bom na Loja e ruim no mundo profano, bom em público e mau para com a família. Muitos desejam sinceramente ser bons Maçons. Mas é preciso que resistam a certos estímulos, que sacrifiquem certos caprichos. Como é ingrato aquele que morre medíocre, sem nada fazer que o glorifique para os Céus. Sua vida é como árvore estéril, que vive, cresce, exaure o solo e ainda assim não deixa uma semente, nenhum bom trabalho que possa deixar outro depois dele! Nem todos podem deixar alguma coisa para a posteridade, mas todos podem deixar alguma coisa, de acordo com suas possibilidades e condições.
Quem pretender alçar-se aos Céus sozinho, dificilmente encontrará o caminho. A operosidade jamais é infrutífera. Senão trouxer alegria com o lucro, ao menos, por mantê-lo ocupado, evitará outros males. Se tivermos liberdade para fazer qualquer coisa, devemos encará-la como uma dádiva dos Céus; se temos a predisposição de usar bem esta liberdade, então é uma dádiva da Divindade.
Maçonaria é ação, não inércia. Ela exige de seus iniciados que trabalhem, ativa e zelosamente, para o benefício de seus Irmãos, de seu país e da Humanidade. É a defensora dos oprimidos, do mesmo modo que consola e conforta os desafortunados. Frente a ela é muito mais honroso ser o instrumento do progresso e da reforma do que deliciar-se nos títulos pomposos e nos autos cargos que ela confere. A maçonaria advoga pelo homem comum no que envolve os melhores interesses da Humanidade. Ela odeia o poder insolente e a usurpação desavergonhada. Apieda-se do pobre, dos que sofrem, dos aflitos; e trabalha para elevar o ignorante, os que caíram e os desafortunados.
A fidelidade à sua missão será medida pela extensão de seus esforços e pelos meios que empregar para melhorar as condições dos povos. Um povo inteligente, informado de seus direitos, logo saberá do poder que tem e não será oprimido. Uma nação nunca estará segura se descansar no colo da ignorância. Melhorar a massa do povo é a grade garantia da liberdade popular. Se isto for negligenciado, todo o refinamento, a cortesia e o conhecimento acumulado nas classes superiores perecerão mais dia menos dia, tal como capim seco no fogo da fúria popular. Não é a missão da Maçonaria engajar-se em tramas e conspirações contra o governo civil. Ela não faz propaganda fanática de qualquer credo ou teoria; nem se proclama inimiga de governos. Ela é o apóstolo da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Não faz pactos com seitas de teóricos, utopistas ou filósofos. Não reconhece como seus iniciados aqueles que afrontam a ordem civil e a autoridade legal, nem aqueles que se propõem a negar aos moribundos o consolo da religião. Ela se coloca à parte de todas as seitas e credos, em sua dignidade calma e simples, sempre a mesma sob qualquer governo.
A maçonaria reconhece como verdade que a necessidade, assim como o direito abstrato e a justiça ideal devem ter sua participação na elaboração das leis, na administração dos afazeres públicos e na regulamentação das relações da sociedade. Sabe o quanto à necessidade tem por prioridade nas lidas humanas. A maçonaria espera e anseia pelo dia em que todos os povos, mesmo os mais retrógrados, se elevem e se qualifiquem para a liberdade política, quando, como todos os males que afligem a terra, a pobreza, a servidão e a dependência abjeta não mais existirão. Onde quer que um povo se capacite à liberdade e a governar-se a si próprio, ai residem as simpatias da Maçonaria. A Maçonaria jamais será instrumento de tolerância para com a maldade, de enfraquecimento moral ou de depravação e brutalização do espírito humano. O medo da punição jamais fará do maçom um cúmplice para corromper seus compatriotas nem um instrumento de depravação e barbarismo. Onde quer que seja, como já aconteceu, se um tirano mandar prender um crítico mordaz para que seja julgado e punido, caso um maçom faça parte do júri cabe a ele defende-lo, ainda que à vista do cadafalso e das baionetas do tirano.
O maçom prefere passar sua vida oculto no recesso da penumbra, alimentando o espírito com visões de boas e nobres ações, do que ser colocado no mais resplandecente dos tronos e ser impedido de realizar o que deve. Se ele tiver dado o menor impulso que seja a qualquer intento nobre; se ele tiver acalmado ânimos e consciências, aliviado o jugo da pobreza e da dependência ou socorrido homens dignos do grilhão da opressão; se ele tiver ajudado seus compatriotas a obter paz, a mais preciosa das possessões; se ele cooperou para reconciliar partes conflitantes e para ensinar aos cidadãos a buscar a proteção das leis de seu país; se ele fez sua parte, junto aos melhores e pautou-se pelas mais nobres ações, ele pode descansar, porque não viveu em vão.
A Maçonaria ensina que todo poder é delegado para o bem e não para o mal do povo. A resistência ao poder usurpado não é meramente um dever que homem deve a si próprio e a seu semelhante, mas uma obrigação que ele deve a Deus para restabelecer e manter a posição que Ele lhe confiou na criação. O maçom sábio e bem informado dedicar-se-á à Liberdade e à Justiça. Estará sempre pronto a lutar em sua defesa, onde quer que elas existam. Não será nunca indiferente a ele quando a Liberdade, a sua ou a de outro homem de mérito, estiver ameaçada. O verdadeiro maçom identifica a honra de seu país como a sua própria. Nada conduz mais à glória e à beleza de um país do que ter a justiça administrada a todos de igual modo, a ninguém negada, vendida ou preterida. Não se esqueça, pois, daquilo a que você devotou quando entrou na Maçonaria: defenda o fraco contra o truculento, o destituído contra o poderoso, o oprimido contra o agressor! Mantenha-se vigilante quanto aos interesses e à honra de teu país! E possa o Grande Arquiteto do Universo dar-lhe a força e a sabedoria para mantê-lo firme em seus altos propósitos!

 Albert Pike - Soberano Grande Comendador
(texto escrito em 1871).

O Autor: Escritor e advogado norte-americano. Autor de várias obras, tanto profanas, como maçônicas. Sua principal obra é Morals and dogma. Em 1859 foi eleito "Soberano Grande Comendador", tendo participado do Supremo Conselho Meridional do R.: E.: A.: A.:. Foi Grão-Mestre Provincial da Grande Loja Real da Escócia nos Estados Unidos e "Membro Honorário” de muitos Conselhos espalhados pelo mundo.

www.comunidademaconica.com.br

domingo, 20 de outubro de 2013

INICIAÇÃO NA LOJA SÃO JOSÉ Nº14

Na tarde/noite de ontem (19/10) foi realizada, no Templo da Loja São José nº14, cerimônia de Iniciação de cinco novos Obreiros, grande aquisição não só para a Loja como para toda a Maçonaria Universal.
A cerimônia foi abrilhantada pela ilustre presença do Sereníssimo Grão-Mestre Luiz Carlos Rocha da Silva, que nos honrou mais uma vez com sua fraternal assistência.
Aos neófitos, que sejam muito bem vindos à maior instituição de homens livres e de bons costumes de todo o planeta: a Maçonaria.


















APAGANDO VELINHAS

Os nossos desejos de muita saúde e felicidades são para a cunhada Giselda, esposa do Ir.'. Nil, que ontem (19/10) completou mais uma primavera.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A (VERDADEIRA) PRIMEIRA GRANDE LOJA

A FORMAÇÃO DA PRIMEIRA GRANDE LOJA DE MAÇONS
ALEMANHA 1250

Pelo Ir.´. Henning A. Klövekorn

Tradução José Antonio de Souza Filardo M .´. I .´.

Com a difusão do cristianismo por toda a Alemanha e a exigência de que bispos romanos erguessem catedrais, os colégios Maçônicos na Alemanha prosperaram. Geralmente designado como Steinmetzen ou Canteiros, estas fraternidades maçônicas levantaram igrejas e catedrais por toda a Europa continental. A sociedade de canteiros tinha dentro de si uma grande variedade de classes e ocupações. Estas incluíam Steinmaurer ou assentadores de pedras, Steinhauer ou cortadores de pedra, bem como Steinmetzen, uma palavra derivada de Stein ou pedra e Metzen, um derivado da palavra Metzel ou entalhador, uma arte mais detalhada e refinada que os cortadores de pedras. A construção de Bauhütten ou lojas situadas junto às igrejas em construção serviu como estúdio de projeto, local de trabalho e quarto de dormir.
Um dos mais antigos registros de lojas maçônicas se encontra na cidade alemã de Hirschau (agora Hirsau) no atual estado de Baden-Württenberg. As lojas Maçônicas instituídas na cidade de Hirschau no final do século 11 trabalhavam sob a ordem beneditina da Alemanha, e foram as primeiras a estabelecer o estilo gótico de arquitetura.
As Armas dos Franco Maçons da Alemanha
Já em 1149, as primeiras Zünftes alemãs ou sindicatos de pedreiros se desenvolveram em Magdeburg, Würzburg, Speyer e Straßburg. Em 1250, a primeira Grande Loja dos Maçons formou-se na cidade de Colônia (Köln), Alemanha. A Grande Loja foi formada como parte do imenso empreendimento para erguer a catedral de Colônia.
O primeiro congresso maçônico ocorreu na cidade de Straßburg, na Alemanha no ano de 1275. Ela foi fundada pelo Grão Mestre Erwin von Steinbach. Este também foi o primeiro uso registrado do símbolo dos maçons, o compasso e o esquadro. Embora Straßburg fosse considerada a primeira Grande Loja de seu tempo, outras Grandes Lojas maçônicas já haviam sido fundadas em Viena, Berna e a acima mencionada de Colônia; estas foram chamadas Oberhütten ou grandes lojas. Diversos congressos maçônicos foram realizados na cidade de Straßburg, incluindo os anos 1498 e 1563. Nesta época, as primeiras Armas de Maçons registradas na Alemanha foram registradas representando quatro compassos posicionados em torno de um símbolo do sol pagão, e dispostos em forma de suástica ou roda solar ariana. As Armas Maçônicas da Alemanha também exibiam o nome de São João Evangelista, santo padroeiro dos maçons alemães.
A Oberhütte (Grande Loja) de Colônia, e seu grão-mestre, era considerada a cabeça das lojas maçônicas de toda a Alemanha do norte. O grão-mestre da Straßburg, na época uma cidade alemã, era chefe de Lojas Maçônicas de todo sul da Alemanha, Francônia, Baviera, Hesse e as principais áreas da França.
As Grandes Lojas de Maçons na Alemanha recebiam o apoio da Igreja e da Monarquia. O Imperador Maximiliano revisou o congresso maçônico de 1275 em Straßburg e proclamou a sua proteção ao ofício. Entre 1276 e 1281, Rudolf I de Habsburgo, um rei alemão, tornou-se membro da Bauhütte ou Loja de St. Stephan. O Rei Rudolf foi um dos primeiros não-operativos, também chamados membros livres ou especulativos de uma loja maçônica.
Os estatutos dos maçons na Europa foram revisados em 1459 pela Assembléia de Ratisbonne (Regensburg), a sede da Dieta Alemã, cuja revisão preliminar tinha ocorrido em Straßburg sete anos antes. As revisões descreviam a exigência de testar irmãos estrangeiros antes de sua aceitação nas lojas através de um método de saudação estabelecido (aparentemente internacional ou europeu).
A primeira assembléia geral de maçons na Europa ocorreu no ano de 1535, na cidade de Colônia, na Alemanha. Ali, o bispo de Colônia, Hermann V, reuniu 19 lojas maçônicas para estabelecer a Carta de Colônia, escrita em latim. As primeiras grandes lojas dos maçons estiveram presentes, o que era costume na época, e incluíam a Grande Loja de Colônia, Straßburg, Viena, Zurique e Magdeburg. A Grande Loja Mãe de Colônia, com o seu grande mestre era considerada a principal Grande Loja da Europa.
Após a invenção da imprensa, os maçons (Steinmetzen) da Alemanha, reuniram-se em Ratisbona em 1464 e imprimiram as primeiras Regras e Estatutos da Fraternidade de Cortadores de Pedra de Straßburg (Ordnung der Steinmetzen). Estes regulamentos foram aprovados e sancionados pelos Imperadores sucessivos, tais como Carlos V e Ferdinando.
O monge alemão Martinho Lutero e seu protesto contra as injustiças e hipocrisias da Igreja Católica em 1517 deram origem ao protestantismo. Isto liberalizou algumas das lojas maçônicas da época. A Catedral de Straßburg tornou-se Luterana em 1525 e muitas outras a seguiram.
Em 1563, os Decretos e Artigos da Fraternidade de Canteiros foram renovados na Loja Mãe em Straßburg no dia de S. Miguel. Estes regulamentos demonstram três elos importantes com a Maçonaria moderna. Em primeiro lugar, os aprendizes eram chamados de “livres” na conclusão do serviço a seu Mestre, o que sem dúvida é a origem da palavra Freemason  ou “franco-maçom”. Em segundo lugar, a natureza fraternal da loja era retratada em uma série de regulamentações, tais como o atendimento aos doentes, ou a prática de ensinar um irmão sem cobrar, nos termos do artigo 14. Em terceiro lugar, os maçons utilizavam um aperto de mão secreto como meio de identificação.
Dois artigos do regulamento indicando estes pontos são:
“Nenhum Mestre ensinará um companheiro por dinheiro.
XIV. E nenhum artesão ou mestre aceitará dinheiro de um colega para mostrar ou ensinar-lhe qualquer coisa relacionada com maçonaria. Da mesma forma, nenhum vigilante ou companheiro mostrará ou instruirá qualquer um por dinheiro a talhar, conforme dito acima. Se, no entanto, alguém desejar instruir ou ensinar outro, ele pode muito bem fazê-lo, uma mão lavando a outra, ou por companheirismo, ou para assim servir ao seu mestre.
LIV. Em primeiro lugar, cada aprendiz quando tiver servido o seu tempo, e for declarado livre, prometerá à ordem, pela verdade e sua honra, ao invés de juramento, sob pena de perder o seu direito à prática da maçonaria, que ele não divulgará ou comunicará o aperto de mão e a saudação de pedreiro a ninguém, exceto àquele a quem ele pode justamente comunicá-las, e também que ele não escreverá coisa alguma sobre isso”.
As regras de Straßburg estipulavam que a entrada na Fraternidade era por livre vontade e indicava claramente os três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre na fraternidade maçônica alemã. Elas exigiram que se fizesse um juramento e que os pedreiros se reunissem em grupos chamados ‘Kappitel’ (Capítulo). As regras instruíam os maçons não ensinar Maçonaria a não-maçons.
Está claro que as lojas ou grandes lojas maçônicas alemãs existiam antes da formação da Grande Loja de Inglaterra em 1717. Assim como o uso de apertos de mão secretos, o uso do termo “livre” e sua aceitação de não-operativos. O uso de alegoria e simbolismo em camadas, que torna exclusivo o sistema maçônico fraternal, também era evidente nas lojas alemãs da época, conforme mostrado nas esculturas de pedra e estilos arquitetônicos das igrejas e mosteiros que eles construíram.

Fonte: http://bibliot3ca.wordpress.com