por el M:.R:.H:. Guilherme Oak
Os
caracteres da escrita hebraica não possuem vogais. Normalmente são substituídos
por sinais (massoréticos) que agem como vogais. Assim se um judeu religioso escrevesse
o nome de Deus em hebraico no alfabeto ocidental soaria algo como: D--s ou
N-ss- S-nh-r, tomando todo o cuidado
para não tomar o santo nome em vão. Os judeus pronunciam o nome de Deus de
várias maneiras: El, Eloim, El Shadai, Adonai, etc. Contudo, o nome inefável de
Deus [desnecessário dizer que o hebraico se lê da direita para a esquerda]
raríssimamente é grafado (quando o é, normalmente para uso em pesquisa
etimológica sobre a origem do Nome) ou pronunciado (sendo nestas pouquíssimas
vezes, não é propriamente pronunciando e sim soletrado com as letras hebraicas:
iod, hei, vav e hei). Em inglês, o nome inefável é transliterado como YHVH
(Javé em Português como se verá a seguir). Os estudiosos cristãos ensinam que
os judeus adoram Deus com um nome relacionado com a letra W. Tal fato se deve a
dominação que os alemães exerceram no campo teológico nos últimos duzentos
anos. O W em alemão é pronunciando como o V em português e inglês e o vav em
hebraico. Os alemães também grafam como J onde encontram o iod hebreu ou o Y em
inglês (tal letra inexiste no alfabeto português) quando ele ocorre. Assim YHVH
apareceria como JHWH. A Bíblia de Jerusalém grafa como Javé e/ou Iahweh.
A tradição judaica afirma que a
atual pronúncia do Nome é um segredo para sempre perdido desde a destruição do
Templo e é considerado impróprio tentar pronunciar o Nome. Quando o Nome ocorre
em caracteres hebraicos deve ser usada uma palavra substituta, ou seja Adonai.
Outro traço importante na cultura
religiosa hebraica é o termo Bíblia. Claro que Bíblia é o têrmo português para
a palavra hebraica Tanach . Tanach ou Tanack é um acrônimo construído pelas
três seções da Bíblia: a Torah ,
ou seja a Lei, o Nevi’im , ou seja os Profetas e o Kesuvim ou Ketuvim , ou seja
os Escritos ou os Hagiógrafos. Na versão moderna, constituem os 39 livros (considerando-se
Samuel I e II e Reis I e II como livros separados) da Escritura Hebraica que,
obviamente, os judeus não chamam de Velho Testamento. Aquilo que os cristãos chamam
de Velho Testamento e Novo Testamento, os judeus chamam de Escritura Hebraica e
Escritura Cristã. O cânon hebraico difere do cânon cristão por desconsiderar os
livros escritos em grego e os suplementos gregos de Ester e Daniel. Para uma
breve recordação, o cânon hebraico lista os seguintes livros:
· Pentateuco: 1- Gênesis, 2- Êxodo, 3-
Levítico, 4- Números, 5- Deuteronômio;
· Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7-
Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I e II), [posteriores]10- Isaías, 11-
Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’ profetas, na ordem retomada pela Vulgata:
Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias e Malaquias;
· Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16-
Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20-
Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel, 23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas.
Aqui
surge uma questão que agora poder ser respondida com maior conhecimento de
causa. Quando um candidato maçônico judeu presta um juramento, a Torah deve ser
posta no altar como Livro da Lei? Não. A Torah é somente uma parte da Bíblia
judaica. Colocar a Torah no altar seria o equivalente para os cristãos de se
colocar somente os quatro Evangelhos no altar, sem as Epístolas, o Apocalipse,
etc. O Livro dos Profetas e os Hagiográfos assumem um importante papel na
adoração judaica e no entendimento da lei judaica. A Torah é a mais importante
seção da Bíblia, e é particularmente venerada, mas não é toda a Escritura.
Seria,
então, o caso de se colocar o Talmud no altar para os candidatos judeus? Aqui,
convém, esclarecer que o Talmud é um livro de interpretação legal. O Talmud
também ensina uma grande parte sobre o pensamento judeu e a crença religiosa,
mas ele não é a Sagrada Escritura. As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de
Aquino desempenham o mesmo papel numa relação similar com a Bíblia dos
cristãos, contudo, também não são as Escrituras.
Surge
agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja? Aqui convém distinguir
entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah), uma espécie de solidéu. O
solidéu (solis Deo = só a Deus)
designa o pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, a qual
se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve
ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em diversos
ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os Mestres em
qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os Mestres em Sessão
do terceiro grau. Geralmente tal cobertura é necessária e feita com o chapéu
negro desabado, podendo-se todavia, utilizar o solidéu (que é o quipá hebraico)
em Sessões do terceiro grau ou de Pompas Fúnebres. O judaísmo adota a prática
oriental de cobrir a cabeça durante as orações como um sinal de respeito,
enquanto nos países ocidentais, a prática é totalmente ao contrário:
descobre-se a cabeça exatamente pela mesma razão. Algumas Obediências Maçônicas
decidiram que o quipá (iarmulque [yarmulke], barrete, tiara, etc.) não é um
chapéu no sentido maçônico, mas um elemento do vestuário. O R\E\E\A\adota
a opinião que o barrete do rito não deve ser removido, por exemplo, durante a
saudação da bandeira. Deve ser considerado, também em maçonaria, o barrete
frígio, que era um pequeno boné de feltro, de forma cônica e com um pequeno
rebordo, com o qual, na Antigüidade, o senhor cobria a cabeça do escravo na
cerimônia de libertação e que era tomado como emblema de liberdade; graças a
isso, ele é, em alguns ritos, um símbolo maçônico, já que a maçonaria sempre
foi libertária.
Uma
última distinção deve ser feita sobre o diferente uso do conceito fariseu entre
cristãos e judeus. O judaísmo moderno é farisaico no seu temperamento, mas os judeus
não usam a palavra como um sinônimo de “hipócrita”. É provável que este último
significado adveio de um conflito entre aqueles que escolheram seguir Jesus e
Paulo e aqueles que permaneceram com o cerne da fé judaica. Naquele tempo, os
fariseus dominavam o pensamento e a prática judaica e é melhor denunciar o
farisaísmo como um desvio do pensamento judeu do que denunciar os judeus
propriamente ditos, desde que os antigos cristãos almejavam converter os
judeus. Os fariseus e os saduceus eram os competidores primários no pensamento
e na prática religiosa dos judeus, embora houvessem outros grupos, como os
essênios, buscando oferecer idéias diferentes. Os saduceus eram o partido da
classe sacerdotal e mantinham a posição de que somente a Lei escrita deveria
ser seguida à risca. Os fariseus conseguiam fazer uma combinação mais flexível
entre a Lei escrita e a oral. Outra importante distinção era que os fariseus
afirmavam que uma pessoa não deveria pertencer necessariamente à classe
sacerdotal para bem cumprir os mandamentos e adorar a Deus. É esta última
diferença que é a mais importante no desenvolvimento do judaísmo na sua forma
para os últimos dois mil anos. Alguns autores fazem um símile entre este
conflito e o da Reforma protestante, quinze séculos depois.
Muito bom este trabalho.
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