terça-feira, 21 de agosto de 2012

ESPIRITUALISMO E ESOTERISMO


Por “Espiritualismo” compreende-se toda a imensa série de ensinos de idéias e argumentos que tendem explicar a vida sob um conceito superior a matéria, em oposição ao materialismo.
Nele se enquadram os ensinos de todas as religiões e filosofias não materialistas, o ocultismo em geral, a psicologia e o espiritismo. O que caracteriza o “Espiritualismo”, entretanto, mesmo quando se trata do mais avançado, é que se baseia num raciocínio demasiado concreto, em argumentações intelectuais, em opiniões e experiências pessoais, que nunca se elevam acima do nível mundano das formas e das aparências. Nesse sentido pode-se afirmar que cada “espiritualista” concebe e forma um espiritualismo próprio, de acordo com seu conhecimento, suas concepções, sua experiência e seus interesses pessoais. Daí a imensa divergência que se nota entre as diferentes correntes “espiritualistas” em todo o mundo e o constante antagonismo que as separa, que as torna rivais e impossibilita qualquer entendimento entre elas.
No campo intelectual de argumentações, de conceitos mentais, de especulações e opiniões pessoais em que se assentam as várias correntes “espiritualistas” não é possível estabelecer-se nenhuma base de entendimento, de aproximação e de harmonização. Em todos os tempos foi assim, mas nos nossos tempos, especialmente, cada vez mais se acentua e cresce a tendência ao separatismo, ao exclusivismo, ao desentendimento. Cada dia surgem novas correntes de opiniões, novas concepções, novas organizações, novos cismas e separações de correntes antigas e tradicionais. Cada indivíduo que se julga “mestre” pretende logo organizar uma nova corrente e conquistar novos adeptos, defendendo e impondo suas idéias e opiniões, que considera sempre “melhores do que a dos outros”, e assim o “espiritualismo” vai-se dividindo e fragmentando de forma impressionante nos nossos tempos. Muito há que em sua boa fé imaginam um Espiritualismo unificado, concordante e harmonioso, capaz de congregar a todos os espiritualistas, mas por mais que se esforcem e procurem movimentos de unificação, todos os esforços têm sido baldados. O que se observa, entretanto, é que a tendência à separação, à desunião, ao desentendimento, é cada vez maior.
A verdade é que não poderia mesmo ser de outra forma, desde que o atual “Espiritualismo” não é mais do que um produto da mentalidade humana, presa ainda a um conceito demasiado concreto e formalista, sem uma base de “realidade” substancial. Poder-se-ia dizer que o atual “espiritualismo” é ainda demasiado mundano, sujeito a toda sorte de emoções negativas, superficiais e ilusórias. É produto da “personalidade”, não se eleva acima do raciocínio exclusivista e egoísta. Funciona no mesmo nível do desejo e da fantasia, que caracteriza todas as criações do homem mundano. Quanto mais se alarga o conhecimento, quanto mais o homem acumula idéias e opiniões, quanto mais forja concepções e elabora novos planos intelectuais, mais exclusivista e separatista se torna, porque a base do intelectualismo e do raciocínio concreto é o separatismo, que cada vez se torna mais acentuado. Os sábios e pensadores do assunto, declaram que no campo intelectual e mental, a unificação é impossível, e têm toda a razão. Os fatos provam insofismavelmente essa realidade. Nos nossos tempos os vários conceitos “espiritualistas” são um terrível exemplo da tendência exclusivista e separatista da mentalidade concreta. O “espiritualismo” como tudo na vida, tornou-se mais um motivo de separações, de competências de lutas e desarmonias entre os homens.
A unificação dos homens, boa compreensão e entendimento, não virão absolutamente de um “espiritualismo” forjado pelo personalismo e pelos vãos conceitos de um intelectualismo interesseiro e mundano, que tem muito de fantasia e muito pouco de realidade. É lógico e muito natural que não sendo capaz de produzir um conceito de unificação e de entendimento, não podendo desapegar-se dos interesses pessoais e mundanos, o atual “espiritualismo” acaba por tornar-se fatalmente mais um meio de desunião, de separações, de desentendimentos, de desgostos e desilusões. É o que vemos por toda a parte. Não obstante as palavras bonitas e cheias de sentimentalismo, os ideais teóricos, os sonhos e fantasias de uma unificação fraternal, os entusiasmos de movimentos de massa que brotam aqui e ali, ocasionais e passageiros, o “espiritualismo” dos nossos tempos vai cada vez mais dividindo os homens, e tornando mais difícil a sonhada “unificação”.
É que infelizmente, os chefes e organizadores desses movimentos sonham com uma “unificação” em que todos os outros concordem com as suas opiniões “salvadoras”, e como, naturalmente, todos os outros se consideram com o mesmo direito, e não concordam, então tudo continua como dantes, e cada um se afasta... mui cordialmente... dos outros, quando não se ofendem e brigam francamente.
Sempre custa muito compreender-se que nesse nível de consciência mundano nada se pode alcançar. Enquanto o homem não compreender que no campo personalista do intelecto e do raciocínio concreto não lhe é possível sair desse nível, todo o esforço será inútil, e o seu “espiritualismo” continuará a ser uma das suas muitas fantasias, sem nenhum resultado prático. Dentro desse nível de consciência só pode haver confusão, e, por fim, a mais amarga desilusão.
Além do campo de “espiritualismo comum” estende-se um campo novo, onde começam verdadeiramente as realizações, onde a espiritualidade se torna um fato, onde o “verdadeiro iniciado” encontra uma realidade, livre de todos os sonhos e fantasias: é o campo do Esoterismo, que se abre a todo homem disposto a um trabalho de superação e de sacrifícios, para a conquista de um mais alto nível de consciência. O Espiritualismo pode ser um caminho de preparação para o Esoterismo, e isso acontece, em geral, com quase todos os investigadores, mas se “o buscador de luz” tem qualidades e chega a compreender as limitações e deficiências do nível de consciência em que se encontra, então só lhe resta um caminho, o do Esoterismo. O caminho do Esoterismo é algo excepcional e estranho. Para cada investigador ele parece sempre novo, embora seja o mais antigo, o mais primitivo. Seus ensinos são exatamente simples, e se encontram por toda parte, mas nunca são “percebidos” pelo homem comum, e mesmo que lhe sejam explicados, não os compreenderá. Só quando alcança um nível superior de consciência, pode o homem entendê-los e reconhecer o seu valor. Enquanto não atinge esse nível superior de entendimento não é possível ao homem comum sentir a grandeza desses ensinos, e mesmo que os tenha em mãos, não saberá aproveitá-los. Não entrarão em sua consciência, e não representarão nada para ele, assim como as pérolas nada representam para os porcos, empregando-se um termo Bíblico tão expressivo (Mateus C. 6, v.6-8).
Nesse sentido o Esoterismo é verdadeiramente um ensino “oculto”, não porque ele esconda ou se reserve, mas porque, no nível de consciência em que o homem comum se encontra não lhe é possível percebê-lo e entendê-lo. Esse é o grande “segredo” do Esoterismo, que por uma fatalidade, em conseqüência de sua própria condição, o homem comum não admite, não acredita e não leva a sério. No seu nível inferior de mentalidade concreta, em seu nível superficial de consciência, o homem comum não pode ver as realidades do Esoterismo, e quando examina algo dos seus ensinos prende-se unicamente à letra, materializando sistematicamente todos os seus conceitos. Ao passar para o nível inferior de consciência do homem comum, as realidades superiores do Esoterismo tornam-se “letra morta” e perdem completamente todo o seu valor; tornam-se “espiritualismo comum”, motivos de especulação intelectual, de controvérsias, de desentendimentos.
Expondo magistralmente, em forma de símbolos e alegorias, as Escolas de Sabedoria das Idades, entre Elas, a maçonaria, chamam sutilmente a atenção dos “buscadores de luz” para esse “segredo” de uma concepção mais alta, de um nível superior de consciência, quando diz que “o mais importante dos ensinamentos, é algo que está entre as linhas, que não foi escrito”. A maçonaria, afirma categoricamente em seus rituais, através da linguagem muda dos seus símbolos e alegorias, uma mensagem imperceptível às massas, e somente àquele que atingir “certo nível” superior de consciência concreta, poderá compreender a linguagem muda dos símbolos e alegorias, lendo nas entrelinhas dos nossos rituais, aquilo que não poderia neles ser escrito. Considerá-lo apenas ao nível intelectual, como simples conhecimento mental, é manter-se no nível da “letra”, é perder a sua essência, o seu “espírito”.
Elevar o seu nível de consciência, para atingir o sentido superior dos ensinos é o primeiro trabalho efetivo de realização que o maçom “buscador de luz” há de fazer, e então poderá perceber os “segredos” que se encobrem na sua apresentação intelectual, nas suas letras. Quando for capaz de sentir o seu sentido superior, quando puder perceber o espírito dos ensinos maçônicos, então verificará , com surpresa sua, que pode perceber o sentido real de todos os ensinos de todas as correntes tradicionais e o valor de quaisquer ensinos que se apresentem. Com a capacidade superior de um nível mais alto de consciência poderá ver a realidade das coisas, e já não se enganará nem se iludirá com aparências. Verá o valor e a importância de cada ensino e poderá “separar as pérolas dos cascalhos”. Nos nossos tempos os ensinos “esotéricos” estão sendo apresentados gradualmente, sob vários aspectos, mas obedecendo todos a um plano inteligentemente traçado, de acordo com as necessidades espirituais de cada raça no caminho da evolução. É preciso, urgentemente, nos livrarmos do fanatismo, do exclusivismo, porque isso só prova incapacidade de entendimento. Fanatismo e exclusivismo são produtos do nível mundano e inferior de consciência. O entendimento não gera nunca o fanatismo, pelo contrário, convence “ao buscador de luz” de que deve ser “tolerante”, mesmo porque não há forma mais desastrosa de sustentar e defender uma idéia ou um ensino do que deixar-se fanatizar por ele. O fanático não “defende” nenhuma idéia, nenhum ensino; o que ele faz, sem o perceber, é perverter e arruinar essas idéias aos olhos de todo mundo. O que o fanatismo pode fazer é atrair e arrastar outras mentalidades fracas, para constituir com elas perigosas correntes, de conseqüências fatais. Deixar-se influir por qualquer corrente de fanatismos, qualquer que seja o seu rótulo, é prejudicar-se seriamente, porque enquanto se está preso a uma corrente mental dessa espécie, paralisa-se o avanço da consciência, e começa-se a retroceder perigosamente.
Se há uma coisa que evitamos a todo transe e de todas as formas é que os buscadores de luz, da nossa maçonaria se tornem fanáticos. Combatemos o fanatismo com todas as armas da lógica e do bom senso, procurando libertar as consciências dos IIr:. e amigos, que nos rodeiam. A maçonaria, jamais admitiu qualquer método ou quaisquer práticas que pudessem despertar o menor princípio de fanatismo e de escravidão mental entre os seus membros. Respeitamos, acima de tudo, a liberdade mental dos nossos IIr:., e a defenderemos em todas as circunstâncias e eventualidades. É o nosso dever e a nossa obrigação. Amando os nossos Irmãos, queremos vê-los livres, conscientes e valorosos, capazes de conquistar um mais alto nível de entendimento, capazes de avançar em plena liberdade pelo caminho da legítima espiritualidade. Esse é o segredo da nossa força e do nosso sucesso. A nossa Irmandade é uma congregação de irmãos livres e conscientes, livres de pensar, de agir e de se conduzir. Como São Paulo, podemos dizer também: 
"- Nós adotamos a Lei da Liberdade." 
A maçonaria e sua filosofia, são meios de libertação, não de escravidão. 

Diógenes José Tavares Linhares - M.'.M.'.
www.pedreiroslivres.com.br

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