Porque se vai à Loja
A
pergunta sobre as razões porque os maçons vão à Loja, gastando tempo que, não
fora essa utilização, dedicariam à sua família, ao lazer ou a outras atividades
a que se dediquem, tem tantas respostas quantos os maçons.
Em boa verdade, cada um tem as suas
razões para ir à Loja.
Uns vão em busca do conhecimento, dos
ensinamentos que a Maçonaria proporciona.
Outros buscam o convívio, rever os seus
Irmãos, com eles estar e partilhar um ágape, em amena cavaqueira.
Outros ainda procuram na Loja a
estrutura que corresponde aos seus anseios de serem úteis à Sociedade e aos
seus semelhantes, utilizando a Loja como meio de enquadramento da sua vontade
de devolver à Sociedade um pouco do que esta lhes proporciona.
Também há os que vão à Loja simplesmente
cumprir o seu dever de maçons, assegurar o cumprimento das obrigações que
assumiram, efetuar as tarefas cuja execução assumiram.
Há também aqueles que, na Loja, no seu
espaço, nos seus símbolos, no seu ritual, encontram espaços e tempos de
comunhão com o Divino, com o Transcendente.
E existem também aqueles que anseiam por
uns momentos de simples e pacata Paz, que procuram a companhia de seus Irmãos e
a sua estada no espaço do Templo com confiança, encontrando um oásis de
segurança e comunhão, que os compensam das agruras, dos desafios, da tensão da
sua vida do dia a dia.
E outros buscarão coisas e estados e espaços
diferentes.
O
que a Loja tem afinal, de extraordinário é uma infinita capacidade de
proporcionar a cada um o porto de abrigo, o espaço de segurança, o caminho de
busca, o tempo de convívio, a estrutura de atividade ou contemplação ou
investigação ou busca que cada um necessita. O que, no fundo, a Loja é, é um
espaço de suprema Liberdade e Tolerância, em que cada um pode realizar-se e
deixar os outros realizar-se, cada um à sua maneira e segundo as suas características
e necessidades.
É um espaço de cooperação, em que cada
um contribui para a realização e melhoria dos outros, beneficiando ele próprio
do contributo dos demais.
É um ponto de encontro, simultaneamente
ponto de partida e encruzilhada de variegados interesses individuais, que constituem
um rico interesse coletivo. É a bissetriz do individual e do coletivo, de tal
forma equilibrada que permite que ambos cresçam e cooperem e mutuamente se
alimentem. É, em suma, a Utopia possível, a concretização do inconcretisável,
equilíbrio instavelmente estável de múltiplos interesses e egoísmos, numa
matriz que a todos enquadra satisfatoriamente.
É um delicado bordado de mil linhas e
infinitas cores, executado por inúmeras mãos, extraordinariamente resultando numa
harmoniosa composição. É tudo isto e ainda mais o que cada um quiser, desde que
respeite os interesses e anseios dos demais e do conjunto por todos
constituído. Esta singular plasticidade da Loja faz dela um duradouro cimento
que une homens de diferentes temperamentos, de diversas gerações, de
divergentes culturas, de separadas religiões, de conflitantes convicções,
gerando laços de solidariedade e confiança que imutavelmente duram há centenas
de anos.
É por isso que sempre se marca bem,
sempre da mesma forma, sempre com o mesmo ritual, a abertura dos trabalhos,
delimitando invisível mas sensivelmente o espaço e o tempo e a cumplicidade da
Loja e dos seus elementos em relação a tudo e a todos que lhes é exterior. É
por isso que, findos os trabalhos, de novo, sempre e da mesma forma, se executa
um ritual de encerramento, que marca o fechar e preservar desse espaço e tempo,
e cumplicidade próprias e exclusivas, preparando cada um para voltar a atuar no
mundo exterior, só que mais forte, mais sabedor, mais capaz de ver beleza onde
o olhar comum nada de especial vê.
A
Loja é um espaço onde cada um dá o que pode e vai buscar o que necessita. É por
isso que cada um sabe porque vai à Loja e, afinal, existem tantas razões para
um maçom ir à Loja como maçons existem à face da Terra.
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