A questão da religiosidade de Caxias é das mais curiosas. Curiosa porque ele era maçom, em uma época em que ser maçom era equivalente a ser herege, heterodoxo.
No entanto, diz-nos Vilhena de Moraes que o Duque de Caxias morreu abraçado com o crucifixo. Mais ainda, já declarara em seu testamento: "Sou católico romano, nesta fé tenho vivido e espero morrer". Católico e maçom.
Não apenas maçom curioso, mas participante, sendo elevado a altos graus e chegando a Grão-Mestre de um efêmero Grande Oriente Nacional Brasileiro, conforme nos indica Octaviano Bastos. Ainda mais, até 1871 era atuante nas altas esferas da maçonaria nacional, tendo recebido dois votos para Grão-Mestre naquele ano.
Verdade é que Caxias não era o único católico que também era maçom no Brasil. Outros nomes aparecem nas listas maçônicas do Século XIX, tais quais o Marquês de Olinda, Frei Caneca, Frei José de Santa Rita, Padre José Pereira Tinoco, Cônego Juliano de Faria Lotário, Cônego Januário da Cunha Barbosa, Padre Manoel Inácio de Carvalho, Bispo Sebastião do Pinto Rego e um grande número de outros clérigos e leigos. Todos católicos e maçons.
Como assim, quando se sabe que a maçonaria européia era francamente anticatólica e cooperara na derrota de Roma e se regozijara na sua conquista por Vitor Emanoel da Sardenha?
É talvez necessário esclarecer que a maçonaria brasileira se apresentava em duas alas bem distintas. a maçonaria monarquista conservadora, e a maçonaria revolucionária libero - republicana.
A maçonaria conservadora, liderada por José Bonifácio, que é chamado de "traidor", por muitos maçons, impôs seu conservantismo por meio de violência - prisões, exílio e morte.
Eventualmente, essa maçonaria impôs no Brasil o chamado Rito Escocês, que na verdade era um rito criado por Frederico II da Prússia, que nada tinha de revolucionário e radical.
Sendo assim, inúmeros católicos sinceros, como Caxias, pertenceram à maçonaria conservadora, sem de maneira alguma sentirem que estavam ferindo suas consciências cristãs.
Caxias, como muitos outros maçons, ia à missa regularmente, conforme atesta seu diário de guerra no Paraguai. Mais ainda, sabe-se que era amigo dos capelões do Exército que, em retorno, cooperavam com ele, inclusive colocando-se ao seu lado na luta intestina entre conservadores e liberais dentro das Forças Armadas.
No entanto, o momento em que Caxias mais se distinguiu como católico foi durante a chamada Questão Religiosa., Como membro do Conselho de Estado, e como fiel defensor do Imperador, votou três vezes em favor da posição regalista da Coroa. Porém, ao contrário dos outros regalistas, ressalvou cada vez que votava apenas na questão temporal e que o Governo não podia, nem devia, se imiscuir na área espiritual.
Mais tarde, essa luta entre a Igreja e o Estado chegou a um impasse. As dioceses de Olinda e Pará estavam em uma situação descrita como de "total anarquia político-religiosa". A Coroa considerava a possibilidade de levar a cabo mais prisões e mais punições. Caxias, convidado a assumir a presidência do Conselho de Ministros, exigiu que os bispos fossem anistiados, como condição para sua aceitação do cargo.
Como presidente do Conselho de Ministros pacificou a família católica brasileira concedendo anistia aos Bispos D. Vital e D. Macedo Costa. Pagou ainda suas côngruas atrasadas e deu-lhes liberdade de viajar a Roma, como no caso de D. Vital.
É verdade que sua atuação não foi vista com muitos bons olhos pelos maçons radicais, que parecem tê-lo posto de lado naquele momento. Por ocasião de sua morte, em 1880, não houve nem choro nem ranger de dentes, como houvera poucos meses antes por ocasião da morte do celebrado chefe maçônico Visconde do Rio Branco.
Não que Caxias tivesse sido expulso da maçonaria. Apenas que nenhum maçom radical expressou grande tristeza ao vê-lo partir. Nem por isso deixava ele de ser maçom, como não deixara ele de ser bom católico durante toda sua vida.
Fonte: altoscorpos.org
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