O Tratado de Kadesh, um dos primeiros exemplos registrados de um tratado internacional, foi celebrado no século XIII a.C. entre Ramsés II do Egito e Hatusil III, rei dos hititas. Exemplar do Museu de Arqueologia de Istambul, Turquia.
Kadesh (ou Qadesh, em outra grafia, usada em diversos idiomas, por alguns autores também no português) é uma cidade cananeia localizada sobre o rio Orontes, onde hoje é a Síria ocidental. Os restos da antiga cidade estão preservados em uma grande elevação artificial, Tell Nebi Mend, onde está situada uma pequena povoação árabe.
Kadesh chamou a atenção no mundo antigo como uma das duas cidades cananeias – a outra foi Megido – que liderou a coalizão de cidades-Estado que se opuseram à conquista do Levante por Tutmosis III, faraó egípcio de 1.479 a 1.426 a.C. Kadesh foi provavelmente levada a fazer parte dessa oposição pelo governante de Mittani, o principal rival estrangeiro do Egito no controle do levante. A derrota de Kadesh na subsequente Batalha de Megido acabou resultando na submissão da cidade à hegemonia egípcia, assim como o resto do sul da Síria. A troca de correspondência entre o governante de Kadesh e o faraó Akhenaton foi preservada nas cartas de Amarna.
A cidade é mais conhecida, contudo, como o lugar da mais bem documentada batalha do mundo antigo, a Batalha de Kadesh, travada entre as super-potências do século XIII a.C.: os impérios egípcio e hitita. Depois de cerca de 150 anos de vassalagem ao Egito, a cidade de Kadesh em algum momento submeteu-se à suserania hitita, tornando-se assim território contestado na fronteira entre os dois impérios. Diante da crescente ascensão política hitita e consequente expansão para o sul, o faraó egípcio Ramsés II respondeu com uma agressiva ação militar. A batalha resultante, travada perto de Kadesh, por pouco não resultou num desastre militar egípcio frente às forças hititas comandadas pelo Rei Muwatali II. Ramsés II conseguiu, contudo, reverter a situação, e os dois exércitos retiraram-se em condição de empate, ambos proclamando vitória. Kadesh, porém, continuou sob o domínio hitita.
O subsequente impasse entre o Egito e o Hatti em última instância resultou no que é hoje reconhecido como um dos mais antigos tratados internacionais de paz existentes, firmado algumas décadas após a batalha de Kadesh, entre Ramsés II e seu homólogo hitita, o rei Hatusil III, que reinou de 1.275 e 1.250 a.C. Cada soberano recebeu um original do tratado, em sua língua e na língua do adversário e em cujos respectivos textos cada um considerava-se vencedor. O rei hitita impôs que o Grande Faraó deveria esposar uma princesa hitita, o que não difícil para Ramsés aceitar, bastou-lhe apenas acrescentar mais uma esposa à sua lista de rainhas, mas o nome da princesa não passou à história. Sua predileta continuou sendo Nefertari, famosa por sua beleza.
A importância do tratado de paz firmado em Kadesh é historicamente tão grande que o saguão do edifício-sede das Nações Unidas em Nova York ostenta uma cópia do texto do mencionado documento.
Ir.’. Marcos André
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