foto: divulgação
Os mistérios que cercam nossa Ordem fortaleceram ao longo dos séculos a teoria de que atos relacionados com ciências ocultas são praticados dentro dos templos maçônicos. A imaginação, porém, dificilmente corresponde à realidade.
A fama foi se criando ao longo da segunda metade do século XVIII por conta dos conceitos místicos não autorizados pela Igreja. No entanto o “mérito” pela cristalização desta teoria cabe quase que exclusivamente a Albert Pike (1809-1891). Advogado, poeta, escritor prolífico, general do exército da confederação dos Estados Unidos, e claro, Maçom. Pike era um leitor voraz, especialmente interessado nas religiões e sistemas filosóficos de culturas antigas, e sua influência na formação do pensamento e do código de moral das pessoas ao redor do mundo.
O mito foi explorado por um autor francês cujo pseudônimo era Leo Taxil, que escreveu uma popular série de livros e folhetos denunciando a maçonaria na década de 1890. Mas em 1897 o próprio Taxil revelou que seu retrato sobre Albert Pike como adorador do príncipe das trevas era uma completa farsa.
Uma extraordinária explicação surge em defesa de Pike na obra de John J. Robinson, denominada “A Pilgrim´s Path” – título não traduzido para o português :
“O fundamentalismo anti-maçônico baseia-se nos escritos do autor para condenar a Maçonaria e sua filosofia, mas omitem o fato de que suas obras foram escritas apenas para a jurisdição Sulista doRito Escocês da América do Norte, que era o limite da autoridade maçônica de Pike. Tal jurisdição abrangia estados do sul e oeste e representava cerca de 20% do total de maçons americanos. Isso significa que cerca de 80% dos maçons americanos têm pouco ou nenhum conhecimento sobre o trabalho do General Pike. Estes homens são mistificados por ataques contra a Maçonaria que citam os escritos de Pike, sem que tenham a menor idéia do que o antagonista está falando."
“Alguns dos críticos da Maçonaria encontram nas obras de Pike sua matéria prima, especialmente em seu pesado “Morais e Dogmas”, um livro de 861 páginas que muitos maçons possuem, mas poucos leram. A leitura não só é entediante como também está repleta da própria percepção de Pike sobre a Maçonaria. Muitos Maçons poderão concordar com algumas declarações, mas há outros que jamais acreditarão. Pike foi tão envolvido em seu conhecimento de antigas religiões e sistemas filosóficos que tendia a fazer o estudo da Maçonaria muito mais complexo e esotérico do que jamais foi criado para ser. Em alguns dos seus capítulos, se as palavras "Maçom" e "Maçonaria" fossem removidos, é razoável acreditar que muitos maçons não seriam capazes de reconhecer a sua própria fraternidade nos escritos.”
“Pike foi uma força dinâmica, estabelecendo uma forte adesão na sua própria jurisdição. Era uma figura muito respeitada na história da maçonaria americana, mas nunca foi um porta-voz de todos os maçons e nunca tentou afirmar-se como tal. Ele era um homem forte que jamais deixou de expressar suas opiniões pessoais, e é importante lembrar que seus pronunciamentos sobre maçonaria são apenas isso: a sua própria opinião.”. Este conceito está muito bem claro no prefácio de “Morais e Dogmas”:
“Todos são totalmente livres para rejeitar tudo o que aqui pode parecer-lhe ser mentira ou insalubre”
Robinson diz que sentiu-se aliviado ao ter lido o prefácio pois há muita coisa em “Morais e Dogmas” que ele próprio rejeita. Como exemplo, as citações a partir da página 819 em que Pike afirma :
“Os Graus Simbólicos (que Pike chama de Graus Azuis) são apenas a entrada do Templo. Parte dos símbolos são mostrados ali para o iniciado, que é intencionalmente enganado por falsas interpretações. Não se espera que ele entenda, pretende-se que ele imagine que tenha entendido. Sua verdadeira explicação é reservada aos altos Graus Filosóficos”.
Esta é mais uma das citações de Pike que sustentam os argumentos dos anti-maçons. Robinson afirma ter indagado maçons o suficiente de forma a estar convencido de que não há um único maçom que concorde com esta afirmação. Por outro lado há uma corrente que defende a tese de que tais citações eram apenas uma forma de confundir e despistar os perseguidores da Ordem.
No entanto nenhuma citação de Pike excita mais os fundamentalistas anti-maçônicos do que suas referências a Lúcifer. Foram apenas três sentenças (das quais duas são realmente exclamações) retiradas de um livro de, como já dissemos, 861 páginas com um índice de 216 páginas. Poucas citações na história da humanidade têm atraído a atenção de tantos :
“Lúcifer, o filho da manhã! É ele que porta a luz e com seu esplendor intolerável cega as almas frágeis, egoístas ou sensuais ? Não duvide !”
Com este parágrafo Pike deu aos anti-maçons o prato cheio de que necessitavam para alimentar suas teorias.
Robinson analisa : “Na realidade a paixão de Pike - talvez sua obsessão - foi a de que todos os homens deveriam procurar conhecimento, ou simplesmente a "Luz". Desta luz derivam a informação e a compreensão. Alguns fundamentalistas, no entanto, afirmam que toda luz vem da crença em Deus, e que qualquer outra fonte de luz é anti-cristã, muito embora o resto do mundo continue a usar expressões como: "Temos que levar isto à luz do dia", ou, "Alguém aqui quer lançar alguma luz sobre este assunto?". Isto é o que Jornal Scripps-Howard tinha em mente quando se aprovou um farol como sua marca registrada, com o slogan "Dê a luz às pessoas e encontrarão seu caminho".
“Luz, no sentido em que é utilizado por Pike, significa educação. Educação é uma daquelas coisas que a maioria de nós acha que é universalmente aceito, e ele estava em completa harmonia com essa abordagem. Talvez ele tenha sido um pouco diferente dado ao seu fascínio pela história da religião, o tema da maioria de seus escritos.”
Porque “Lúcifer”? Na astronomia romana, Lúcifer foi o nome dado a estrela da manhã (que agora conhecemos por outro nome romano - Vênus). A “Estrela da Manhã” aparece no céu pouco antes do amanhecer, anunciando o sol nascente. O nome deriva do termo em latim Lucem Ferre, ou “portador de luz".
Portanto pode-se afirmar que, como “Morais e Dogmas” é um livro que mistura o fascínio de religiões e filosofias antigas com astrologia, mitos, lendas e esoterismos de todos os tipos, Pike quis apenas dizer que “O planeta Vênus surge antes do nascer do sol e é o portador da luz”, relacionando o astro ao conhecimento.
Então, Lúcifer nada mais é do que um antigo nome em latim para a estrela da manhã, a estrela D´Alva, o portador da luz. Isso pode ser confuso para a maioria dos cristãos.
Segundo Robinson, Lúcifer faz a sua aparição no décimo quarto capítulo do Antigo Testamento, livro de Isaías, no décimo segundo versículo, e em nenhum outro lugar. Afirma também que a relação Bíblica entre o termo Lúcifer e o príncipe das trevas, o anjo caído, não passa de erro de tradução dos antigos manuscritos em hebraico e de mutações dos textos ao longo dos tempos e suas diversas traduções.
“Tratando-se de um termo em Latim, como foi encontrado um significado para um manuscrito hebraico escrito antes do surgimento da língua Romana?” E completa : “Na versão original do texto hebraico, o décimo quarto capítulo de Isaías não trata de um anjo caído, mas de um rei babilônico que durante a sua vida teria perseguido os filhos de Israel.”
Ainda assim a maioria dos estudiosos maçônicos admitem que Pike errou ao usar o termo “Lúcifer” no sentido acadêmico. John Robinson cita um velho ditado: “Pode estar correto, mas não é certo.”
Pode ser bom para um estudioso escrever para o esclarecimento de outros estudiosos, mas para aqueles com uma verdadeira vontade de se comunicar, devem ser utilizadas palavras e termos de uso comum.
Não satisfeitos, muitos fundamentalistas acusavam Pike de conspirar para assumir o poder nos Estados Unidos. Teorias da conspiração e acusações de que em nossas reuniões está se organizando uma nova Ordem Mundial, perseguem a maçonaria até os dias atuais. Sobre este assunto reproduzimos as palavras de Brent Morris, Ph.D e Historiador Maçônico, para o documentário “Os mistérios da maçonaria” – produzido pelo Canal The History Channel : "Dizem que somos perigosos e sinistros porque existimos há séculos, estamos por toda parte, que homens poderosos já pertenceram à fraternidade e nos reunimos em segredo. Mas se não conseguimos concordar em servir sanduíche de presunto ou de atum depois da reunião como podemos concordar em dominar o mundo ?"
Bibliografia
- Almanaque da Maçonaria – On Line Editora - 2008
- Web Sites : http://www.masonicinfo.com/lucifer.htm
- Documentário “Decifrando o passado – Os Mistérios da Maçonaria” – The History Channel
Rogério Alegrucci - M∴M∴
Trabalho apresentado na A∴R∴L∴S∴ Manoel Tavares de Oliveira, 2396 - R∴M∴ GOB-GOSP - Or∴de São Paulo em 03/03/2009 E∴V∴
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