Dizem que um dos
maiores inimigos do homem é inerente a ele mesmo: o seu ego.
Existe uma fábula sobre uma rã que se
perguntava como poderia se afastar daquela região fria, em pleno inverno.
Alguns gansos sugeriram que ela emigrasse com eles, mas o problema é que a rã
não sabia voar. "Deixem-me pensar - disse a rã - tenho um cérebro fora do
comum". Então pediu ajuda a dois gansos: acharam um galho forte e cada um
deles sustentou o galho por uma extremidade. A rã segurou-se ao galho, pela
boca. Os gansos e a rã faziam o vôo quando, em certo momento, passaram por uma
pequena aldeia, de onde os habitantes saíram para ver o inusitado espetáculo. E
alguém perguntou: "De quem foi tão brilhante ideia?". A rã, toda
orgulhosa e se sentindo a mais genial, a mais importante das criaturas,
respondeu com ênfase: "Fui eu"! Eis então que o orgulho descomedido
da rã foi à causa da sua própria ruína, pois no momento que abriu a boca,
soltou-se do galho, e caiu para morte.
A soberba sempre foi censurada através
dos séculos, por todas as doutrinas humanitárias e por todas as religiões de
que se tem notícia. Para a maçonaria não é diferente, pois ela é vista como uma
eficiente pedra de tropeço, uma ponta nefasta da pedra bruta que precisa ser
desbastada, uma voluntária condenação espiritual do homem.
A soberba é um sentimento que se
caracteriza pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, seja por
acreditar que é o melhor no que faz, no que decide, no que sabe, no que tem ou
na sua capacidade de resolver as coisas.
A 1ª Epístola do apóstolo João adverte
que a soberba é a semente de todo pecado. Aliás, para a Igreja Católica, a
soberba é considerada um dos sete pecados capitais, sendo associada ao orgulho
excessivo, à arrogância e à vaidade, próprios do demônio Lúcifer (“a Estrela da
Manhã”) e ao planeta Vênus.
Para muitos teólogos, a soberba é o
pilar de toda a transgressão do homem. Isso porque a soberba é considerada como
o pecado original, uma vez que existia muito antes do homem e da criação. Uma
linha teórica acredita que Satanás, o anjo caído, corrompeu-se em soberba. O
livro de Isaías, por exemplo, relata a queda do anjo: “derrubada está na cova a
tua soberba (...), serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo
abismo”. No entanto, outros estudiosos rejeitam essa ideia porque, para eles, a
soberba só surgiu com o homem.
Além do cristianismo, o judaísmo e o
islamismo também atribuíram à soberba vários conceitos como semente do mal,
destruidora dos homens, maldição e queda do espírito, ruína e crimes da alma,
praga maldita, paixões da carne, etc. No poema de Dante Alighieri, “A Divina
Comédia”, o purgatório principal é composto por sete círculos que representam
os sete pecados capitais. E logo no primeiro círculo encontram-se os
“orgulhosos” (ou os soberbos), apontados como os que mais se distanciam de
Deus, já que ali se encontra o alicerce para uma vida de pecado.
E por alguma razão esse veneno do orgulho
e da soberba sempre foi perigoso, de uma forma notável, na vida de líderes
espirituais. Mesmo com pouco estudo é possível conferir que o orgulho, mais do
que qualquer outro pecado, foi a causa da derrota de muitos personagens da
história que assumiram posições de influência sobre o povo de Deus.
De olhos embotados pelo véu da
ignorância, o soberbo se sente autorrealizado, querendo mostrar-se para os
outros a todo preço, desejando a sua admiração, como se isso elevasse sua
estima ao máximo e lhe trouxesse prazer.
O soberbo quer superar sempre; não
aceita ser como a média, não aceita ser como os demais. Ele precisa se
destacar, tem necessidade de grandeza e valorização. Exige respeito,
reconhecimento, aplausos. Mas quando é superado, o soberbo logo se deixa
dominar pela inveja, querendo depreciar os outros e vangloriar-se. Se não
consegue ser o mais inteligente ele então desejará e será o mais ignorante,
falando sobre isso o tempo todo para que, seu interlocutor, ao ouvir a
depreciação passe a elogiar o soberbo mesmo que seja por educação.
E não é só quando fala com atrevimento e
empáfia que o soberbo se revela. Não é apenas com uma fluidez e uma eloquência
impositiva de “verdades sublimes” que a soberba sobressai, pois ela também se
faz presente até mesmo no silêncio dos pensamentos quando o soberbo se vê numa
resistência intelectual ao que provém dos seus demais, e, ao ouvi-los, diz para
si mesmo coisas do tipo: “eu já sei tudo sobre isso”, “quem ele pensa que é
para me ensinar alguma coisa”, “primeiro ele precisa crescer, para depois ele
vir falar alguma coisa de mim”.
Do mesmo modo, a soberba não ocorre só em
matéria de conhecimento, mas também há soberba de poder econômico (“ele vai ver
o que eu faço com ele”), de posses materiais (“o meu carro é muito melhor do
que o dele”), de posição hierárquica (“aqui quem pode criticar sou eu”), e até
das situações vantajosas em geral, como ocorre quando alguém se acha o maioral
só por conhecer autoridades e pessoas influentes.
Para o Maçon.’., que tem como um dos
seus propósitos a busca da Pedra Polida Perfeita de cada um, que se dá pela
mera conversão de si mesmo num modelo útil e proveitoso para toda a família e
para a humanidade em geral, recomenda que se traga luz à consciência, a fim de
combater também esse mal da ignorância, até porque a maior vítima da soberba é
ela mesma, que mais cedo ou mais tarde acabará isolada, aprisionada pela sua
própria autossuficiência.
Todos nós já nascemos picados pela
Serpente. A soberba e o orgulho são venenos que não matam de uma vez, mas que
podem se espalhar pelas veias. Começa aos poucos, de forma sutil, paralisando
nervos, matando a sensibilidade, até que chegue ao sistema nervoso central e
domine a razão. Se a vítima não tomar o antídoto em tempo, é fatal: estará
contaminada pelo veneno da autossuficiência. Afinal, o que o soberbo busca é a
admiração, mas ignora um efeito colateral que é a compaixão das pessoas pelo
humilhado e o desprezo ao opressor orgulhoso.
A
correção da soberba ocorre única e simplesmente pela virtude da humildade. É
agindo com simplicidade que se consegue combater a soberba nas suas mais
diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e olhando o mundo
não apenas a partir de si, mas principalmente ao redor de si.
O antídoto da humildade inclui uma dose
saudável de moderação nas palavras e no pensamento. É indispensável reconhecer
que cada um de nós carrega tesouros valiosos em seu próprio templo de virtudes,
mas somos como vasos de barro; viemos do pó e ao pó voltaremos; todos nós.
Somos da mesma natureza, criaturas vivas e maravilhosas, mas ao mesmo tempo
cheios de diferentes imperfeições aos olhos humanos, seres pensantes e capazes,
mas em constante transformação, e até o mais importante dos homens uma hora
sucumbe, sem abalar o fluxo e o refluxo do universo, que segue o seu curso
evidenciando a insignificância de cada um de nós para a continuidade da vida
nesta terra. E o que nos parece uma certeza agora pode se revelar um equívoco
logo ou mais adiante.
Que o G.’.A.’.D.’. U.’. ilumine a todos.
Irmão
Ronaldo Zanata Pazim
Loja
Cavaleiros de São José Cerquilho - SP