quinta-feira, 30 de junho de 2016

OS CUIDADOS QUE O MAÇOM DEVE TER COM A SOBERBA: A IRMÃ DO ORGULHO, DA ARROGÂNCIA E DA VAIDADE.



        Dizem que um dos maiores inimigos do homem é inerente a ele mesmo: o seu ego.
Existe uma fábula sobre uma rã que se perguntava como poderia se afastar daquela região fria, em pleno inverno. Alguns gansos sugeriram que ela emigrasse com eles, mas o problema é que a rã não sabia voar. "Deixem-me pensar - disse a rã - tenho um cérebro fora do comum". Então pediu ajuda a dois gansos: acharam um galho forte e cada um deles sustentou o galho por uma extremidade. A rã segurou-se ao galho, pela boca. Os gansos e a rã faziam o vôo quando, em certo momento, passaram por uma pequena aldeia, de onde os habitantes saíram para ver o inusitado espetáculo. E alguém perguntou: "De quem foi tão brilhante ideia?". A rã, toda orgulhosa e se sentindo a mais genial, a mais importante das criaturas, respondeu com ênfase: "Fui eu"! Eis então que o orgulho descomedido da rã foi à causa da sua própria ruína, pois no momento que abriu a boca, soltou-se do galho, e caiu para morte.
A soberba sempre foi censurada através dos séculos, por todas as doutrinas humanitárias e por todas as religiões de que se tem notícia. Para a maçonaria não é diferente, pois ela é vista como uma eficiente pedra de tropeço, uma ponta nefasta da pedra bruta que precisa ser desbastada, uma voluntária condenação espiritual do homem.
A soberba é um sentimento que se caracteriza pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, seja por acreditar que é o melhor no que faz, no que decide, no que sabe, no que tem ou na sua capacidade de resolver as coisas.
A 1ª Epístola do apóstolo João adverte que a soberba é a semente de todo pecado. Aliás, para a Igreja Católica, a soberba é considerada um dos sete pecados capitais, sendo associada ao orgulho excessivo, à arrogância e à vaidade, próprios do demônio Lúcifer (“a Estrela da Manhã”) e ao planeta Vênus.
Para muitos teólogos, a soberba é o pilar de toda a transgressão do homem. Isso porque a soberba é considerada como o pecado original, uma vez que existia muito antes do homem e da criação. Uma linha teórica acredita que Satanás, o anjo caído, corrompeu-se em soberba. O livro de Isaías, por exemplo, relata a queda do anjo: “derrubada está na cova a tua soberba (...), serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo abismo”. No entanto, outros estudiosos rejeitam essa ideia porque, para eles, a soberba só surgiu com o homem.
Além do cristianismo, o judaísmo e o islamismo também atribuíram à soberba vários conceitos como semente do mal, destruidora dos homens, maldição e queda do espírito, ruína e crimes da alma, praga maldita, paixões da carne, etc. No poema de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, o purgatório principal é composto por sete círculos que representam os sete pecados capitais. E logo no primeiro círculo encontram-se os “orgulhosos” (ou os soberbos), apontados como os que mais se distanciam de Deus, já que ali se encontra o alicerce para uma vida de pecado.
E por alguma razão esse veneno do orgulho e da soberba sempre foi perigoso, de uma forma notável, na vida de líderes espirituais. Mesmo com pouco estudo é possível conferir que o orgulho, mais do que qualquer outro pecado, foi a causa da derrota de muitos personagens da história que assumiram posições de influência sobre o povo de Deus.
De olhos embotados pelo véu da ignorância, o soberbo se sente autorrealizado, querendo mostrar-se para os outros a todo preço, desejando a sua admiração, como se isso elevasse sua estima ao máximo e lhe trouxesse prazer.
O soberbo quer superar sempre; não aceita ser como a média, não aceita ser como os demais. Ele precisa se destacar, tem necessidade de grandeza e valorização. Exige respeito, reconhecimento, aplausos. Mas quando é superado, o soberbo logo se deixa dominar pela inveja, querendo depreciar os outros e vangloriar-se. Se não consegue ser o mais inteligente ele então desejará e será o mais ignorante, falando sobre isso o tempo todo para que, seu interlocutor, ao ouvir a depreciação passe a elogiar o soberbo mesmo que seja por educação.
E não é só quando fala com atrevimento e empáfia que o soberbo se revela. Não é apenas com uma fluidez e uma eloquência impositiva de “verdades sublimes” que a soberba sobressai, pois ela também se faz presente até mesmo no silêncio dos pensamentos quando o soberbo se vê numa resistência intelectual ao que provém dos seus demais, e, ao ouvi-los, diz para si mesmo coisas do tipo: “eu já sei tudo sobre isso”, “quem ele pensa que é para me ensinar alguma coisa”, “primeiro ele precisa crescer, para depois ele vir falar alguma coisa de mim”.
Do mesmo modo, a soberba não ocorre só em matéria de conhecimento, mas também há soberba de poder econômico (“ele vai ver o que eu faço com ele”), de posses materiais (“o meu carro é muito melhor do que o dele”), de posição hierárquica (“aqui quem pode criticar sou eu”), e até das situações vantajosas em geral, como ocorre quando alguém se acha o maioral só por conhecer autoridades e pessoas influentes.
Para o Maçon.’., que tem como um dos seus propósitos a busca da Pedra Polida Perfeita de cada um, que se dá pela mera conversão de si mesmo num modelo útil e proveitoso para toda a família e para a humanidade em geral, recomenda que se traga luz à consciência, a fim de combater também esse mal da ignorância, até porque a maior vítima da soberba é ela mesma, que mais cedo ou mais tarde acabará isolada, aprisionada pela sua própria autossuficiência.
Todos nós já nascemos picados pela Serpente. A soberba e o orgulho são venenos que não matam de uma vez, mas que podem se espalhar pelas veias. Começa aos poucos, de forma sutil, paralisando nervos, matando a sensibilidade, até que chegue ao sistema nervoso central e domine a razão. Se a vítima não tomar o antídoto em tempo, é fatal: estará contaminada pelo veneno da autossuficiência. Afinal, o que o soberbo busca é a admiração, mas ignora um efeito colateral que é a compaixão das pessoas pelo humilhado e o desprezo ao opressor orgulhoso.
 A correção da soberba ocorre única e simplesmente pela virtude da humildade. É agindo com simplicidade que se consegue combater a soberba nas suas mais diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e olhando o mundo não apenas a partir de si, mas principalmente ao redor de si.
O antídoto da humildade inclui uma dose saudável de moderação nas palavras e no pensamento. É indispensável reconhecer que cada um de nós carrega tesouros valiosos em seu próprio templo de virtudes, mas somos como vasos de barro; viemos do pó e ao pó voltaremos; todos nós. Somos da mesma natureza, criaturas vivas e maravilhosas, mas ao mesmo tempo cheios de diferentes imperfeições aos olhos humanos, seres pensantes e capazes, mas em constante transformação, e até o mais importante dos homens uma hora sucumbe, sem abalar o fluxo e o refluxo do universo, que segue o seu curso evidenciando a insignificância de cada um de nós para a continuidade da vida nesta terra. E o que nos parece uma certeza agora pode se revelar um equívoco logo ou mais adiante.
Que o G.’.A.’.D.’. U.’. ilumine a todos.
Irmão Ronaldo Zanata Pazim
Loja Cavaleiros de São José Cerquilho - SP

quarta-feira, 15 de junho de 2016

São João Smoler, para nós, São João de Jerusalém, Patrono da Maçonaria.






                                           
      
Ao iniciarmos os trabalhos em loja, o V.’.M.’. Invoca a proteção do G.’.A.’.D.’.U.’.e abre-se a loja, dizendo  -“em homenagem a São João, nosso padroeiro, declaro aberta esta loja no Grau de A.’.M.’. sobre o Titulo distintivo (e diz o nome da loja)” . Nesse momento os trabalhos estão abertos, mas nos resta a pergunta: Quem é este São João, e o porque do titulo distintivo?
A Bíblia fala de dois São João: o Batista e o Evangelista.
Para responder a esta pergunta nós precisamos ainda mais nos aprofundar um pouco em textos, lendas e histórias, para descobrirmos quem foi São João de Jerusalém e porque nossas lojas são dedicadas a ele.
Comecemos por fazer algumas distinções. O primeiro São João de que ouvimos falar e o qual um dos mais famosos personagens da bíblia é sem dúvida, São João Batista, o précussor de Jesus, pregou a vinda do Senhor, a necessidade de se arrepender  dos pecados e das pessoas serem batizadas, tendo o privilégio de batizar o próprio Jesus. Mais tarde, lançado na prisão por ter reprovado publicamente o casamento adúltero de Herodes Ântipas com Herodias, esposa de seu irmão, quando foi morto, após Salomé, filha de Herodias,  ter pedido a Herodes sua cabeça em uma bandeja, o mesmo teve sua cabeça decepada por ser fiel aos seus princípios e convicções.
Este Santo tem seu dia de comemoração também associado aos mistérios celestes, pois se comemora exatamente no dia do equinócio de inverno, ou seja, o dia mais curto do ano. A maçonaria, por sua vez, associou este dia como contemplação a esta transição do sol, e a reverencia em suas lojas com associações a sua doutrina. Erroneamente alguns historiadores associaram este São João como patrono da maçonaria, talvez por ser o mais famoso e conhecido, mas isso é um erro comum entre os que levianamente estudam a maçonaria por obrigação.
O outro São João de que se tem noticia, e também associado à maçonaria, é o São João Evangelista. Apostolo e um dos três mais intimamente associados de Jesus, juntamente com Pedro e Tiago. Este João escreveu o evangelho segundo João, as três cartas de João e Apocalipse, uma maravilhosa visão da Revelação.
Sua data de comemoração é associada ao solstício de verão, que ocorre em dezembro.
Nesta data eram eleitas as gestões das lojas, e neste solstício a maçonaria também realizava comemorações pela passagem do sol. Porém, também erroneamente, este São João foi associado como patrono da maçonaria; principalmente por aqueles que não se dão ao trabalho de ler, e gostam muito de citar grandes nomes do passado não testando e investigando sua veracidade; meramente copiando e transcrevendo seus dizeres e se esquecendo que a verdade é a mola que nos impulsiona. Então, surgem as perguntas: Se nenhum deles é o patrono da maçonaria, quem o é? Se não são estes dois importantes santos, a quem abrimos nossas lojas e trabalhamos sobre sua proteção?
No ano de 550 da era cristã, após a vinda de Jesus, nasceu um menino na ilha de Chipre ao sul da Itália, onde seu pai, Epifânio, era o governador da ilha, motivado por sua formação cristã e caridosa. Dedicou sua vida a obras assistenciais, por ajudar pobres, doentes e famintos. Tinha o costume de sentar-se em frente à igreja para ouvir e atender as queixas destes desafortunados. O mesmo se encaminhou a Jerusalém, com a intenção de montar um hospital que atendesse aos peregrinos que viajavam à Terra Santa, para visitar o Santo Sepulcro.
Nesta ocasião ocorriam as Sagradas Cruzadas, lideradas pelos cavaleiros Templários, ao qual este menino se inspirou em seus métodos e conduta, durante as Sagradas Cruzadas, fundou a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares e montou em Jerusalém um hospital que atendesse aos peregrinos que iam à terra santa, utilizando recursos próprios, de sua herança.
O garoto, e agora homem, veio a faleceu no ano de 619, na cidade de Amatonto, na ilha de Chipre. Após a sua morte, o Papa em reconhecimento ao seu desprendimento e amor incondicional, o canonizou com o nome, São João Esmoleiro, porém este santo ficou mais conhecido como São João de Jerusalém.
A História certamente terminaria aqui, mas se fossemos meros profanos. Mas para nós, maçons iniciados na Arte Real, livres pensadores e perseguidores da verdade, não! Ainda nos restam as pergunta: Porque dedicar as lojas à ele? O que ele fez em Jerusalém? Porque voltou a sua pátria?
Atentai, amados IIr.’., que a resposta esta diante de vossos olhos. Ao sair de sua terra natal, o garoto levou o quinhão da fortuna de seu pai, que lhe era de direito. Ao invés de viver uma vida sossegada, ele deslocou-se para Jerusalém, onde construiu com enorme dificuldade, um hospital para socorrer os enfermos. Porém, a época era das Cruzadas, e os povos viviam em guerra. Baseado nos princípios da Cavalaria Templária, ele fundou a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares, que tinha por principal função, defender os hospitais e prestar socorro à quem se achava enfermo. Ele mesmo foi amigo, irmão e confidente de muitos enfermos, e deu a eles mais do que os seus recursos financeiros. Doou a cada um deles, sua saúde e atenção. Nunca fez distinções entre feridos de guerra e leprosos; todos que buscavam ajuda neste período de caos encontravam, sem dúvida, uma mão estendida nos Cavaleiros Hospitalares e em São João.
A Ordem dos Cavaleiros Hospitalares logo foi transformada na Ordem dos Cavaleiros de Jerusalém, que agora não só tomavam conta dos hospitais, mas corriam em socorro dos doentes e dos necessitados, onde quer que se encontrassem. Esta Ordem sobreviveu durante anos, e ganhou enorme respeito dos Templários da época. O seu fundador foi eleito e sagrado Grão-Mestre dos Cavaleiros de Jerusalém, recebendo as mais altas honrarias Templárias, pois estes o reconheciam como um puro e fiel Cavaleiro, seguidor dos antigos valores. São João retornaria a sua pátria, na Ilha de Chipre, por saber que a mesma estava à mercê de invasão dos Turcos, e o seu povo necessitava de ajuda. Para isso, ele contou com sua experiência em Jerusalém, e fundou a Ordem dos Cavaleiros de Malta, que tinha a dupla função: Proteger os hospitais, ajudar os enfermos e feridos, e lutar pela manutenção da paz e preservação da independência de sua pátria.
A Ordem prosperou na parte da Hospitalaria, mas a sua força armada não foi suficiente para deter a invasão Turca, que dominou e destruiu grande parte da Ilha. Gostaríamos de dizer que tudo foi fácil e belo, mas esta não é a verdade. Muito sangue foi derramado para que os Cavaleiros pudessem prosseguir em sua jornada, e mantivessem a chama acesa, no intuito de ajudar os feridos e vitimas de doenças.
Os Cavaleiros de Malta foram conhecidos por seus atos como, grandes defensores dos oprimidos e daqueles que precisavam de ajuda, assim como já eram os Cavaleiros de Jerusalém. Após a morte de São João, e sua posterior  canonização, a Ordem de Cavalaria Templária associaría, fortemente, São João de Jerusalém como seu patrono, e ao se postarem no campo, para as batalhas, sempre se colocavam sobre a proteção do mesmo.
A Maçonaria copiou grande parte de seus ensinamentos e do modo de agir dos Templários, além de associar São João como seu padroeiro, pois os ideais deste nobre homem, que foi elevado a condição de Santo, combinavam com a doutrina maçônica de amor incondicional ao próximo, e sua elevada determinação em lutar pela liberdade. A partir deste momento, em que a maçonaria se colocava a campo para lutar pela liberdade da humanidade, clamava a esta grande figura, que a partir deste momento, sería conhecido por todos os maçons como: São João de Jerusalém nosso Patrono.
Por isso todas as lojas são abertas e dedicadas a sua homenagem, e até hoje nós somos lojas de São João. O amor dele nos contagia, e em sua homenagem é que trabalhamos para socorrer os necessitados, como ele o fez, e levar a luz do conhecimento e da verdade a toda a Humanidade.
Comemora-se no dia 23 de janeiro o dia de São João Smoler, para nós, São João de Jerusalém, Patrono da Maçonaria.



autor: Ir. Waldemar (A.R.L.S. União e Lealdade)
adaptado e revisado: lr.’. Mário Paiva (A.’.R.’.L.’.S.’. IIR.’. Fraternos – GLERN)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O Uso da Maçonaria para Vantagens Pessoais



Quando pertencemos a uma instituição, entidade, clube ou a uma ordem, temos obviamente motivos para acreditar que, fazendo parte desse grupo, teremos certos privilégios e prerrogativas não extensivas àqueles que não pertencem a esse meio.
Essa é uma situação comum que atinge a todos os que participam de um grupo estruturado e organizado. Trata-se de uma sensação básica que pode ser tanto positiva quanto negativa. Positiva quando vista sob o ângulo da compreensão de limites e negativa quando interpretada erroneamente: quando uma pessoa pensa que pode tudo.
É necessário reforçar que privilégios e prerrogativas podem ser desculpas ou disfarces para a intransigência, a arrogância e a falta de respeito – proveitos e favores que requerem a atenção e a vigilância pessoal de cada um de nós.
Das Regras Legais
Todo sistema social organizado dispõe de leis próprias que estabelecem as condições de convívio e postura, da mesma forma como uma instituição ou ordem disciplina o modo de ser de seus integrantes para mantê-los coesos em seus princípios.
O homem, o cidadão, antes mesmo de abraçar uma instituição, deve respeito às leis de seu país e às normas de seu Estado ou Cidade, as quais ditam sua conduta na “vida profana”, que todo iniciado na Maçonaria sabe como é.
A Maçonaria, por sua vez, também tem suas regras estatutárias, que orientam e disciplinam os irmãos, os chamados landmarks, as mais antigas leis que regem a Maçonaria – são regras colecionadas por Alberto Mackey, como explica a literatura Maçônica.
Dentre os vinte e cinco landmarks maçônicos, podemos extrair três deles: aquele que reza a crença no Grande Arquiteto do Universo, o que exige respeito ao Governo Maçônico e o que diz: “todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinções de prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere”.
Da obtenção de vantagens
Pela leitura do landmark da igualdade, não resta dúvida alguma de que os irmãos em Loja encontram-se nivelados. Entretanto, o objetivo desta reflexão é discutir quando um Maçom pode usar referida condição para obter vantagens pessoais na sociedade.
Todos têm plena noção de que respeitar as leis de seu país é uma obrigação, assim como respeitar as regras da Maçonaria como ordem institucional de funcionamento também o é. Mas até que ponto, externamente, tais fundamentos irão acompanhar o irmão Maçom?
Fazer parte da Maçonaria pode deixar alguém em evidência? Claro que pode.
O fato de eu ser Maçom pode estabelecer contatos a partir dos quais se originam trabalhos profissionais?
Sem dúvida, mas a Maçonaria não é um trampolim para uma coisa nem outra. Nada de mal há em aproveitar os frutos advindos naturalmente de sua participação na Maçonaria. Porém, merece censura aquele que faz da Ordem uma base para suas aspirações politiqueiras, por exemplo, sem estar realmente comprometido com os fins da instituição.
Cabe aqui ressalvar que a Maçonaria não é incompatível com a política, que se revela em sua origem histórica por seus feitos (Abolição, Independência e República). Inclusive, a Constituição do Grande Oriente do Brasil prevê ser um direito do Maçom solicitar o apoio dos Irmãos quando candidato eletivo no mundo profano (disposição mantida no atual projeto de Constituição aprovado pela AFL/GOB: Art. 31-XIII), contanto que seja combatido qualquer tipo de exibicionismo que possa comprometer a imagem da Instituição.
Mas..., e a Irmandade?
Parece claro evidenciar que a Maçonaria, como Fraternidade que é, assim existe para permitir que os irmãos se reconheçam e prestem ajuda mútua uns aos outros. Desse modo, todos aprendem a se reconhecer de uma maneira muito própria, por meio de um ensinamento transmitido de forma a assegurar a interação com outro Maçom.
A fraternidade humana é uma bandeira de luta da Maçonaria em prol da amizade entre os homens (o espírito da Ordem), como preleciona José Martins Jurado em sua obra Apontamentos Adonhiramitas (Madras Editora, 2004, p. 50).
Se há uma Fraternidade, então há uma intenção de apoio também, de um suporte que faça o Maçom se sentir seguro em poder contar com um irmão em uma situação mais delicada ou necessária.
Porém, é nesse ponto que reside a sutileza em diferenciar o “uso da irmandade” com o objetivo de buscar uma solução para uma situação de dificuldade do “uso da irmandade” como se fosse um privilégio ou prerrogativa para obter ganho ou vantagem pessoal.
“Como irmãos, os Maçons devem mútuo auxílio e socorro, até mesmo com risco de perigos e da própria vida”, como nos expõe José Martins Jurado em seus já citados Apontamentos, em uma referência ao inciso V do artigo 32 da Constituição do Grande Oriente do Brasil.
 É importante não perder de vista, contudo, que a Ordem Maçônica não prega a vantagem para quem pertencer aos quadros de uma Loja. A assim chamada Arte Real direciona seus trabalhos nas oficinas para o aperfeiçoamento do homem, para o aprimoramento intelectual e moral e para a solidariedade.
A tolerância e o respeito mútuo são princípios que não se coadunam com a postura da “Lei de Gerson”, expressão popularmente cunhada e que explica muito bem o assunto aqui discutido, isto é, que a vida de um Maçom deve ser pautada por vantagens pessoais.
O Código Maçônico (ou os Mandamentos da Maçonaria Universal) institui que é dever detestar a avareza, porque quem ama as riquezas em demasia não tirará nenhum fruto delas e será tachado como egoísta. A própria Constituição do Grande Oriente do Brasil, no inciso I do artigo 1º, inserido no capítulo que trata dos princípios gerais da Maçonaria e dos postulados universais da Instituição, “condena a exploração do homem, os privilégios e as regalias...”.
Nesse diapasão, se um Ir.´. esquece o ideal maçônico, o aperfeiçoamento moral, e valoriza mais seus interesses pessoais, apresentando-se como Maçom ou autoridade maçônica e usando seu status de membro da Ordem para obter algumas vantagens pessoais, ele poderá ser acusado de cometer um delito contrário aos princípios da Arte Real, de travestir os ideais de uma Loja em “casa de favores” em vez de “casa de valores”.
Portanto, sem dúvida alguma, pode-se dizer que citar os abusos em Loja evita acusações levianas ou destituídas de provas, que formam as fofocas, e impõe-se obviamente, garantindo-se o amplo direito de defesa, um princípio basilar de uma sociedade justa.
Para não passar desapercebido e, também, como verdadeiro sinal de alerta, não se deve olvidar que a sublime Ordem, conquanto não seja secreta, requer discrição. Partindo dessa premissa, não deve o Ir.´., na euforia de pertencer a uma arte tão nobre e antiga, sair contando a todos sua condição de Maçom, pois existem pessoas mal-intencionadas e oportunistas que podem tanto atacar a Ordem e combater o Maçom por pura ignorância, como tirar proveito da camaradagem.
Conclusão
Ser Maçom propicia orgulho, porque a Ordem Maçônica é firme, histórica e já produziu grandes feitos. A justiça é um de seus lemas, assim como a prática da virtude um de seus objetivos. Entretanto, essa virtude só será revelada se o Maçom agir dentro de limites, não imaginando que tudo pode pela simples condição de ser um Maçom, e sim que tudo poderá se seu desejo, pedido ou favor não oferecer constrangimento nem significar vantagem desnecessária ou indevida. Nesse caso, ele estará agindo respeitosamente à imagem da Arte Real, com ética e postura, e se mostrará temente aos ensinamentos maçônicos.