terça-feira, 3 de dezembro de 2013

D. PEDRO I, O IRMÃO GUATIMOZIN

Enquanto a Europa vivia dramáticas transformações com a ascensão do liberalismo e o início da revolução industrial, o príncipe D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa desafiou a corte de Lisboa ao proclamar a independência do Brasil e tornar-se seu primeiro monarca.
Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon nasceu em 12 de outubro de 1798 na sala D. Quixote do palácio de Queluz próximo a Lisboa. Era filho do futuro rei de Portugal D. João VI, então príncipe regente e da infanta Carlota Joaquina, filha de Carlos IV da Espanha. Seus primeiros mestres foram o Dr. José Monteiro da Rocha, ex-jesuíta e frei 
D. Pedro IAntônio de Nossa Senhora da Salete.
Depois da mudança da família real para o Brasil em 1807, frei Antônio de Arrábida tornou-se seu principal preceptor. O príncipe, entretanto, jamais se prendeu aos estudos e preferia a vida solta no paço de São Cristóvão e na fazenda de Santa Cruz. Em março de 1816 com a elevação de seu pai a rei de Portugal recebeu o título de príncipe real e herdeiro do trono (o irmão mais velho, Antônio, falecera em 1801). No mesmo ano casou-se com Carolina Josefa Leopoldina, arquiduquesa da Áustria. Ao irromper a revolução constitucionalista de 1820 no Porto, identificou-se abertamente com a causa liberal.
Após a volta do rei a Portugal, em abril de 1821, Pedro foi nomeado regente do Reino do Brasil. No ano seguinte foi pressionado pelas cortes de Lisboa a também regressar, mas resistiu. Em 9 de janeiro de 1822 pronunciou a frase histórica: "Como é para bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!
D. Pedro inicia-se na Maçonaria na Loja Comércio e Artes no Rio de Janeiro em 2 de agosto de 1822. José Bonifácio, seu ministro, falara da Maçonaria ao Príncipe e o atraíra para ela, principalmente pela ação de Joaquim Gonçalves Ledo em prol da independência do Brasil. Como maçom adota o apelido Guatimozin (ou Cuatémoczin), nome do derradeiro imperador asteca, identificando-se com Guatimozin D. Pedro assume romanticamente a qualidade e os sofrimentos dos Brasileiros.
Porém, em 21 de outubro, D. Pedro temeroso em conseqüência de denúncias feitas a ele que elementos do Grande Oriente, contando com o apoio de alguns oficiais de Tropa tentariam depor os ministros, envia um bilhete a Ledo, pedindo que suspenda os trabalhos maçônicos até segunda ordem. Porém notifica também que será por pouco tempo, até que termine as averiguações necessárias. Mas, em 25 de outubro D. Pedro determina o encerramento das atividades maçônicas com a prisão de diversos maçons e Gonçalves Ledo consegue fugir para a Argentina. Em 20 de outubro de 1823 D. Pedro revoga e cassa o Alvará de 30 de março de 1818, de D.João VI, que proibia as sociedades secretas, mas pelo seu novo decreto torna a ser proibidas as sociedades secretas sob pena de morte ou de exílio.
Em abril (de 1822) a popularidade do príncipe foi comprovada durante uma viagem a
 Minas Gerais. De lá seguiu para São Paulo a fim de pacificar rebeliões na província. Em 7 de setembro quando ia de Santos para a capital paulista recebeu notícias de Portugal por cartas da esposa e de José Bonifácio. Assim tomou conhecimento de que fora rebaixado da condição de regente a mero delegado das cortes de Lisboa, ali mesmo, junto ao riacho do Ipiranga, o herdeiro de D. João VI proferiu o grito de "Independência ou morte!" e rompeu os últimos vínculos entre Brasil e Portugal. De volta ao Rio de Janeiro em 12 de outubro foi proclamado imperador e "defensor perpétuo do Brasil". Em 1º de dezembro foi sagrado e coroado.
Impulsivo e contraditório D. Pedro I logo abandonou as próprias idéias liberais. Sua intervenção na vida política tornou-se ostensiva com a dissolução da Assembléia Constituinte e a demissão de José Bonifácio e seus irmãos. Foi criado então um Conselho de Estado que, 
com o imperador à frente, elaborou a constituição outorgada em 24 de fevereiro de 1824. 
Um dos pontos mais importantes da carta era a instituição do poder moderador que fortalecia ainda mais o monarca. Em 1826 foram instalados a Câmara e o Senado, este de caráter vitalício. O equilíbrio político, no entanto, permanecia instável face a dificuldades financeiras e divergências entre nativistas e "marinheiros" ou "marotos" (portugueses residentes no Brasil). No mesmo ano o jovem imperador se viu diante de mais um impasse com a morte de D. João VI.
Herdeiro do trono português, D. Pedro I decidiu contrariar as restrições da constituição brasileira, que ele próprio aprovara e assumir o poder em Lisboa como Pedro IV, 27º rei de Portugal. Forçado a abdicar em favor de sua filha primogênita Maria da Glória, de sete anos, nomeou regente seu irmão, D. Miguel. A indecisão entre o Brasil e Portugal contribuiu para minar a popularidade e o prestígio de D. Pedro I.
Ao mesmo tempo no plano interno, fracassavam as forças brasileiras na guerra cisplatina (1825-1827). O imperador chegou a ir ao Rio Grande do Sul a fim de participar pessoalmente da campanha, no final de 1826. A notícia da morte da imperatriz Leopoldina obrigou-o a mudar os planos e retornar ao Rio de Janeiro.
Além do malogro militar e dos constantes atritos com a assembléia a vida privada do imperador também contribuía para o desgaste de sua imagem. Era notório seu relacionamento com Domitila de Castro Canto e Melo a quem fez viscondessa e depois marquesa de Santos. O romance teve início em 1822 e durou até o segundo casamento de D. Pedro I, em 1829, com Amélia de Beauharnais duquesa de Leuchtenberg. O marquês de Barbacena encarregado de encontrar uma noiva para o imperador que atendesse às exigências de nobreza, formosura, virtude e educação, enfrentara humilhantes recusas por parte de várias casas reais européias. O constante declínio de seu prestígio e a crise provocada pela dissolução do gabinete levou o imperador a abdicar em favor do filho Pedro em 7 de abril de 1831.
Naquela mesma madrugada deixou o palácio sem se despedir do filho de cinco anos, seu herdeiro, mas enviando-lhe posteriormente uma correspondência na qual assinalava que (...) "me retiro para a Europa (...) para que o Brasil sossegue, e que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz. Adeus, meu amado filho, receba a bênção de seu pai, que se retira saudoso e sem mais esperança de o ver."Entre a data da abdicação e a da partida para Portugal, D. Pedro I enviou algumas outras correspondências como, por exemplo, a José Bonifácio, nomeado tutor do príncipe D. Pedro de Alcântara, em que dizia: (...) "eu delego em tão patriótico cidadão a Tutoria do meu querido filho, e espero que educando-o naqueles sentimentos de honra e de patriotismo com que devem ser educados todos os soberanos (...), ele venha um dia a fazer a fortuna do Brasil de quem me retiro saudoso."No dia 8, de abril, D. Pedro I envia uma mensagem à Assembléia em que comunica ter nomeado como tutor de seu filho - segundo a Constituição, capítulo V, art. 130 - José Bonifácio de Andrada e Silva e pede (...) "à Augusta Assembléia Geral que se digne confirmar esta minha nomeação. Eu assim o espero, confiado nos serviços que de todo o meu coração fiz ao Brasil, e em que a Augusta Assembléia Geral não deixará de querer aliviar-me desta maneira um pouco as saudades, que me atormentam, motivadas pela separação de meus caros filhos e da Pátria, que adoro".
Somente após a abdicação do Imperador as atividades Maçônicas retornariam a sua normalidade em 23 de novembro do mesmo ano.
Com o título de Duque de Bragança D. Pedro assumiu a liderança da luta para restituir à filha Maria da Glória o trono português, usurpado por D. Miguel. Em 1832 nos Açores, criou uma força expedicionária para invadir Portugal e iniciou uma campanha que só obteve a vitória ao fim de três anos.
Apesar de ter reconquistado o trono português para sua filha Dom Pedro voltou tuberculoso da campanha e morreu em 24 de setembro de 1834 no palácio de Queluz, na mesma sala onde nascera 36 anos antes. Foi sepultado no panteão de São Vicente de Fora como simples general e não como rei. Seu coração, legado ao Porto, é ali conservado como relíquia na capela-mor da igreja da Lapa.
D. Pedro teve ao todo 18 filhos. Do primeiro casamento nasceram Maria da Glória (a futura Maria II de Portugal), Miguel (falecido logo após o nascimento), João Carlos, Januária, Paula, Francisca e Pedro. De sua união com a imperatriz Amélia nasceu apenas Maria Amélia. Com a marquesa de Santos teve um menino natimorto, Isabel Maria Alcântara Brasileira, Pedro, Maria Isabel Alcântara Brasileira, duquesa do Ceará (que morreu com um ano de idade) e Maria Isabel Alcântara Brasileira que se tornaria condessa de Iguaçu pelo casamento com Pedro Caldeira Brant. Com a francesa Noémi Thierry teve o menino Pedro falecido antes de completar um ano; com Maria Benedita Bonfim, futura baronesa de Sorocaba e irmã da marquesa de Santos, teve Rodrigo Delfim Pereira; com a uruguaia María del Carmen García teve uma criança natimorta; com a francesa Clémence Saisset teve Pedro de Alcântara Brasileiro; e com a monja portuguesa Ana Augusta teve outro menino de nome Pedro.


Fonte: www.guatimozin.org.br

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