Por Mario Lourenço Paz Pereira - M :. M :.
Entre irmãos é tudo afeto.
Começa a faina, já raia o dia
Em honra ao Arquiteto.
Aqui ferramentas me deram
Para o trabalho braçal.
As três, então me disseram
De ti arrancarão o mal.
Assumo então o meu posto,
Percorro em torno o olhar:
Achando em cada rosto
A forma de trabalhar.
No grande canteiro de obras
Comecei a labutar,
Buscando em meio às sobras
A pedra bruta talhar.
A tosca pedra é atributo
No homem da imperfeição,
Ela é também o reduto
Do impulso, vício e paixão
A destra percorre o espaço
Veloz a força levando
Na presteza do que faço
A obra vai se talhando.
A sinistra com sapiência
Orienta o caminho a seguir.
Pouco a pouco então começa
O aço a pedra ferir.
A ignorância em lascas segue
Amontoando-se pelo chão
Ao mesmo destino é entregue
O egoísmo seu irmão.
O sol já está a pino
Há muito trabalho a cumprir.
De tempos em tempos defino
As veredas do porvir.
Por vinte quatro tempos
Avalio meu proceder
De passos em passos lentos
No destino a percorrer.
Reto ouvir, reto ver
Reto andar, reto fazer
Do Buda ainda escuto
As palavras a dizer.
Retine na pedra o metal
Em incessante cantilena
Pouco a pouco dou a tal
Uma forma mais amena.
O mestre percorre o canteiro
Avaliando meu trabalho
Talvez seja o alvo certeiro
Para um aumento de salário.
Infinitas horas trabalho
Buscando a perfeição
Medindo o quanto valho
Nesta constante ascensão.
Enfim chega o momento
Do merecido descanso
A hora da paga é o evento
Que culmina o meu avanço
É meia noite e o silêncio
Das três adormecidas
Permitem-me então o ócio
Após tão duras lidas.
Então agradeço ao arquiteto
A sabedoria que me inspirou
A força que me manteve ereto
E a beleza que me elevou.
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