quinta-feira, 7 de março de 2013

FRAUDES ECLESIAIS


A interpretação dos livros sagrados, nas diferentes culturas, sempre foi reservada a uma classe sacerdotal. Os crentes aceitavam as versões do sacerdócio sem discutir. Prevalecia a fé sobre a razão, a autoridade sobre a liberdade. Isto facilitava a manipulação dos textos sagrados e assegurava poder espiritual e secular. Autoridades religiosas (judaica, romana e anglicana) fizeram vários expurgos na Bíblia, segundo os seus respectivos interesses.
Referindo-se à autoridade dos textos sagrados, Thomas Hobbes, escritor e filósofo inglês (séc. XVII) afirma que o Antigo Testamento recebeu a forma atual no fim do cativeiro dos judeus na Babilônia, pelas mãos do sacerdote Esdras. Ao tratar do Estado Cristão, na terceira parte do Leviatã, clássico e notável livro publicado em 1651, Hobbes menciona o capítulo 14 (versículos 21 e 45) do primeiro livro de Esdras (Antigo Testamento). Esse capítulo não consta das atuais edições das bíblias católica e protestante. Nos citados versículos, Esdras se dirige a Deus nos seguintes termos: “Tua lei foi queimada, portanto, ninguém conhece as coisas que fizeste, nem as obras que estão para acontecer. Mas, se encontro graça perante ti, envia o Espírito Santo até mim, e escreverei tudo que foi feito no mundo, desde o início, todas as coisas que foram escritas na lei, para que os homens possam encontrar teu caminho…” Dito isso, Esdras narra a palavra de Deus a ele dirigida: “(…) e veio a acontecer que depois de cumpridos 40 dias, o Altíssimo falou e disse: o primeiro que escreveste publica-o abertamente, para que os dignos e indignos possam lê-lo, mas, guarda os últimos 70 para que possas entregá-los apenas àqueles de entre o povo que sejam sábios”.
Os papiros da lei (Pentateuco) viraram cinzas quando o templo de Jerusalém foi destruído e queimado pelo exército de Nabucodonosor. A confissão de Esdras revela que o Antigo Testamento, relativo ao período do início do mundo até o ano 400 AC, tal como o conhecemos hoje, não é o texto original, se é que houve, algum dia, um texto escrito ou ditado por Moisés. Quanto às narrativas sobre a vida e a doutrina de Jesus, contidas nos evangelhos (Novo Testamento), variam segundo a perspectiva de cada evangelista. Alguns apóstolos escreveram ou ditaram seu testemunho (Pedro, Tiago, Tomé, Mateus, Felipe, Judas, João, Maria Madalena). Ao verter esses textos do grego para o latim e organizar o Novo Testamento, no século IV, Jerônimo selecionou os testemunhos de Mateus e João e desprezou os demais por suposta falta de autenticidade dos textos sonegados. Outrossim, os textos qualificados de apócrifos mostravam-se incompatíveis com os dogmas que a Igreja pretendia consolidar. No seu Novo Testamento, Jerônimo incluiu dois textos de quem não fora testemunha ocular (Marcos e Lucas), mais os atos dos apóstolos (escritos por Lucas), as cartas dos apóstolos e o livro profético de João (Apocalipse).
Quando a liberdade ampliou-se no mundo ocidental, amplitude esta que muito deve à decisiva e fecunda contribuição dos maçons, os mistérios que cercavam o sagrado foram se desvelando para um maior número de pessoas na Europa e na América. A partir da segunda metade do século XX houve uma pletora de livros, filmes, artigos, documentários, sobre temas religiosos e esotéricos. Insere-se nesse movimento de reconstrução espiritual, o livro O Evangelho da Irmandade, publicado em abril/2007 e que aborda a trajetória humana e histórica do fundador do cristianismo de um modo sem paralelo na literatura mundial. A narrativa inclui circunstâncias da concepção e nascimento de João Batista e Jesus, o ingresso na escola de mistérios, os debates ali travados, os rituais de ascensão aos diferentes graus de estudos, os meandros da revolução moral e religiosa liderada por ambos, as funções de Maria Madalena, Judas e outros personagens, o êxtase espiritual de Jesus e a sua eleição como Hierofante. Há interlúdios que respondem pelo realismo e verossimilhança do enredo, tais como, a vida doméstica e social, a primeira experiência sexual, episódios de pedofilia, adultério, homossexualismo, crime e julgamento. Romance, misticismo, filosofia, costumes, sensualidade, humor, são os ingredientes dessa obra em cujas linhas se pode sentir o palpitar da vida. O campo ficcional da obra ficou por conta da licença artística e poderá ser ampliado ou reduzido, segundo as crenças, a sensibilidade, o grau e o tipo de conhecimento do leitor.

Ir.'.Antonio Sebastião de Lima
www.revistauniversomaconico.com.br

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