Saturno (Cronos para os gregos) é um titã, uma aberração na forma para os conceitos Uranianos de seu progenitor.
Urano (o firmamento, o céu, a perfeição) ao ver seus filhos esquisitos, alguns com cinquenta cabeças e cem braços (os centímanos), os empurrava de volta ao ventre de sua mulher Gaia (Cibele, a Terra). Revoltada com essa tirania de seu esposo ela conclama seus filhos a se rebelar.
O único que aceita é o caçula Saturno, que munido de uma foice castra seu pai no último momento antes da penetração em Gaia. Do sangue jorrado e caído na terra nascem as Erínias (ou Fúrias), deusas da vingança, do remorso e da cobrança de dívidas. Do sêmen do deus derramado nas ondas do mar nasce Vênus, a deusa do amor e da harmonia.
Esse arquétipo já demonstra uma forte dualidade, de um ato de extrema violência nasce tanto as Erínias em sua sede de justiça como também a harmonia venusiana. Saturno depois do ato retira Urano do poder e tem um governo de justiça e equidade por mil anos, a chamada idade do ouro.
O governo de Saturno e seu poder tinham de ser mantidos mesmo que à custa de atitudes despóticas. Para isso e temendo que um de seus filhos o destronasse, após cada parto de Reia, a esposa do deus, ele devorava seus filhos. Assim, moraram no ventre prisão de Saturno: Hestia (Vesta), Deméter (Ceres), Hera (Juno), Hades (Plutão) e Poseidon (Netuno). Inconformada com a situação, Reia engana seu esposo, ajudada pela mesma Gaia, sua sogra, também inconformada com a atitude do filho, dando a ele uma pedra envolta em cueiros para ser devorada, ele o faz sem perceber o engano.
Júpiter (Zeus) é salvo da injustiça de seu pai Saturno e cresce saudável numa caverna do monte Dicte, na ilha de Creta. Amamentado pela dócil cabra Amalteia, na idade adulta penetra no palácio do pai, dá-lhe uma beberagem que o faz vomitar seus irmãos. Esses com Júpiter fazem uma guerra de dez anos e exilam o pai no Tártaro nevoento, trazendo uma nova era com o comando do líder Júpiter.
Em toda a “Teogonia” de Hesíodo, o autor grego chama o deus do tempo de “o Cronos de curvo pensar”. A idade do ouro não ajudou a fama de Saturno, deus que era bastante esquecido na hora de receber oferendas das pessoas. Era somente lembrado nas saturnais (possível princípio de nosso carnaval), festa que marcava a entrada de Saturno em Capricórnio e época em que as pessoas saiam à rua festejando e cantando e que todas as hierarquias eram abolidas, os escravos eram servidos pelos seus donos, uma imagem bastante aquariana e ligada à idade do ouro, onde todos eram felizes e iguais entre si.
Adão também é um mito de Saturno, a sua desobediência causa uma queda irreparável. Saturno é o limite entre a ilusão e a realidade, Adão ao cair na ilusão de comer a fruta, tentado por Eva, se separa de todos os benefícios do Paraíso e é entregue aos grilhões da matéria. Em Os Trabalhos e os Dias do mesmo Hesíodo, o homem é castigado pela necessidade de se sustentar.
Zeus antes de se casar com Hera, fora casado com Métis (a esperteza), ao saber que sua primeira esposa estava grávida e temendo que seu filho herdasse a esperteza da mãe, ao invés de imitar o pai devorando o filho, Júpiter (Zeus) devora a esposa grávida. Júpiter é aquele que tem a esperteza em si mesmo por tê-la devorado. A idade do ouro não acaba com a queda de Saturno, ela continua até o aparecimento de Prometeu. Júpiter dava o fogo aos homens na forma do raio.
Na idade do ouro ninguém precisava trabalhar, não havia dor ou sofrimento e só havia homens na Terra, eles brotavam do ventre da própria Terra e sua morte era sem dor durante o sono.
Prometeu (aquele que compreende antes), personagem simultaneamente de características humanas e divinas, o líder dos homens, dá a Zeus a primeira oferenda para agradá-lo, só que lhe oferta uma oferenda falsa. Ofendido, o deus dos deuses retira o dom de seus raios e os homens ficam sem o calor do fogo.
Prometeu, metade titã e por isso imortal, também possuía a métis (esperteza), só que em menor grau que Zeus e de forma distorcida, ele tenta enganar quem dava tudo a seus liderados, os homens e faz a ofensa final, rouba o fogo de Zeus e o dá aos homens. Humilhado Zeus manda fabricar uma mulher, Pandora.
Para isso chama seu melhor artesão, o deus Hefestos (Vulcano) e manda que esculpa um rosto e corpo de beleza indescritível. Depois de pronta, Pandora é educada primeiramente pela deusa Atena (Minerva) que ensina os trabalhos de linha e agulha, as artes e a educação. Depois de educada nessas artes, Afrodite (Vênus) lhe ensina as artes sexuais, a sedução e os caprichos femininos.
Por fim Hermes, a mando de Zeus, ensina a Pandora a mentira, a dissimulação, o engano e o roubo. Incute na mente da mulher o cérebro de cão e Zeus batiza-a de Pandora (aquela que leva tudo).
Pandora é mandada a terra com um jarro que jamais deveria ser aberto (Zeus sabia que ela não aguentaria a curiosidade e por isso ordenou que não o abrisse) sendo oferecida de presente ao irmão de Prometeu, Epimeteu (aquele que compreende depois). Pandora abre o jarro (ou caixa dependendo da versão) e espalha todos os males pelo planeta somente sobrando dentro dele a esperança.
Seduz Epimeteu e traz a sexualidade a terra, os homens encontrariam a satisfação plena apenas no encontro sexual sendo que antes ela havia no ato de existir.
A separação entre homens e deuses se dá pela introdução por Zeus do ato sexual entre homens e mulheres, antes privilégio dos deuses. Prometeu roubou o fogo, mas não roubou o seu segredo. As pessoas precisariam trabalhar para gerar o fogo, antes elemento gratuito.
Os alimentos que havia em abundância e as árvores se curvavam para que os frutos de seus galhos chegassem às mãos dos homens sem esforço na idade do ouro, precisariam agora ser plantados e colhidos.
As comidas sempre prontas agora precisavam ser preparadas e cozidas. Favores dos deuses seriam depois da separação obtidos somente por oferendas.
Prometeu deu um enorme golpe em Zeus, antes o chefe e controlador dos homens, que tem reduzido esse poder e passa a controlar só os deuses. Se Zeus perdeu poder, os homens também perderam, uma vez que teriam que prover o sustento de seus corpos pelo trabalho diário e extenuante.
Saturno é ligado a essa ideia de trabalho, de labuta, esforço, dureza, necessidade. O trabalho como castigo divino pela desobediência humana.
Ir.’. Vilemar F. Costa
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