Por Ticiano Duarte, jornalista
Na última visita que fiz a Lisboa, em outubro passado, li numa das revistas editadas naquela cidade, intitulada "Sábado", uma notícia que me chamou atenção, por se tratar de assunto relacionado com a maçonaria e vinha de um encontro na Itália, promovido pelos maçons graduados daquele país, reunindo os Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito, de 28 países que ali se fizeram presentes.
O título da matéria de mais ou menos 15 linhas era - "Maçons atacados" e dizia entre outras coisas, referindo-se a um recente pronunciamento do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano perante o Grande Delta, o parlamento maçônico de Portugal, sobre sua preocupação com o futuro da instituição, no que concerne aos novos recrutamentos para os seus quadros. O cuidado com as admissões, com os que chegavam e recomendando para que se evitassem desvios "nepóticos... de maçons ou Lojas excêntricas ou periféricas, que têm de ser implacavelmente corrigidos".
O Grão-Mestre Fernando Lima destacou que a maçonaria portuguesa sofreu nos últimos anos "o mais violento ataque após 25 de abril". E apelou para que os maçons permanecessem coesos, "incômodos" e "inquebrantáveis" e também atentos. Ele ainda disse uma coisa verdadeira: "Embora sejamos a instituição mais escrutinada da sociedade, os inimigos da liberdade não nos dão descanso". E rejeitou a versão caluniosa sobre "a supersticiosa crença do maquiavelismo maçônico".
Sempre defendi uma rigorosa seleção nos escrutínios para escolha dos que pretendem ingressar na ordem maçônica. A maçonaria é a mais séria sociedade do mundo, que atravessou séculos e contribuiu e tem contribuído para a conquista dos direitos humanos, do desenvolvimento social e político dos países aonde atua, na defesa intransigente da liberdade, da fraternidade, da paz entre homens e nações. Pagou muito caro quando enfrentou a ditadura e os ditadores, funcionando clandestinamente, sob ameaças e prisões, na Alemanha de Hitler; na Itália de Mussolini; na Espanha de Franco; no mundo comunista. Em Portugal nos tempos de Salazar, testemunho prisões e desterros dos seus filiados.
Nós temos responsabilidade social e não podemos aparecer na sociedade, que nos vigia e acompanham nossos passos, através de figuras que entraram pelas portas de fundo de nossas Lojas, pretendendo usar de nossa história e do nosso legado, para auferir vantagens pessoais e acobertar picaretagens e objetivos espúrios.
Perdoem os meus leitores, o desabafo de quem (e os meus conterrâneos me conhecem) ao longo de 43 anos, com humildade, tem contribuído com o esforço na construção e no fortalecimento da maçonaria do Rio Grande do Norte, sobretudo no nosso GOIERN, na Confederação Maçônica do Brasil, a COMAB, que tive a honra de presidir, do Grão-Mestrado que exerci em dois mandatos, pela confiança dos meus queridos irmãos.
Desde que abracei a causa maçônica que tenho me devotado a um comportamento ético no relacionamento interno e externo, de respeito e tolerância à convicções, posturas, desde que não maculassem nossos princípios e que fossem de teor intelectual com relação a ideias e engajamentos às escolas filosóficas que dão embasamento às correntes de pensamento da ordem maçônica. A ética tem a ver com a nossa sobrevivência e presença na sociedade, no chamado mundo profano, de exemplos, em nossa forma de atuar.
Temos que reformular muita coisa que ainda pontifica erroneamente, instrumentada por uma minoria, sem consciência da missão a ser executada, sem se dar conta que o nosso ponto mais alto é de se fazer presente e forma altiva na sociedade, à convicção do nosso papel político e social. A rebeldia sagrada que nos conduz a executar o papel de construtores sociais, resgatando a ação que nos foi legada, estimulando os irmãos a encontrarem o caminho da história - a maçonaria vanguardeira.
A nossa Ordem, ter que ser cada vez mais uma instituição de referência num mundo perturbado pela violência, pela ameaça terrorista, pela corrupção nos países periféricos, com recrudescimento de fundamentalismos vários. Um mundo no qual a globalização produzida pelas novas tecnologias não tem impedido a permanência de graves desigualdades sociais. Um mundo em que, os nossos valores de sempre - liberdade, igualdade e fraternidade e os seus garantes institucionais, liberdade, cidadania e democracia, estão sob constantes ameaças ou não são mais ainda conhecidos em regiões inteiras.
É preciso, realmente todo cuidado especial como preocupadamente afirmou o Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano. É preciso escolher os bons, os que vêm para servir e não se servirem, como uma minoria ainda tenta denegrir a imagem de uma instituição secular que em tempos de incerteza sempre apareceu como âncora moral e espiritual à Humanidade.
Matéria publicada na edição do dia 14 de novembro de 2012 no jornal "Tribuna do Norte".
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