sexta-feira, 5 de abril de 2013

O ÚLTIMO E ÚNICO AMIGO

Roma viu nascer um lindo menino em uma bela tarde de maio. Assistiu impassível o desenvolvimento da infância e juventude que mais tarde seria um dos seus filhos pródigos. Pietro era o seu nome de batismo.
Conseguira, mercê uma vida de esforço e trabalho, tornar-se um rico industrial, orgulhoso de sua cidade natal.
A casa onde morava era uma mansão, uma evocação dos palácios suntuosos da Babilônia Antiga, onde Nabucodonosor celebrara suas conquistas. Revestia-se de luxo e esplendor ofuscantes.
Pietro, com o correr dos anos, desenvolvera uma vaidade extraordinária, apresentando-se sempre impecavelmente vestido ao rigor da moda. Orgulhava-se de vestir as roupas mais caras e confeccionadas pelos figurinistas mais afamados da época. Era de uma ambição desmedida, sendo considerado também como luxurioso ao extremo; suas conquistas amorosas eram comentários dos mais diversos.
Angariara, graças a um esforço e ambição sem tréguas, uma fortuna imensa, cujo cálculo de bens em ouro, imóveis, fazendas e etc. era empreitada para várias semanas de trabalho.
Todavia, embora mercenário exageradamente, durante sua brilhante vida social, não esquecera de praticar boas ações, embora não fosse esse o traço mais marcante de sua personalidade.
Aos 56 anos de idade, após uma vida intensa e agitada, fora vítima de insidiosa moléstia que o obrigou a guardar o leito. Todos os esforços e inúmeros recursos que sua riqueza podia proporcionar foram utilizados para salvar-lhe a vida, porém inutilmente.
No leito de morte, antes de expirar o último alento, Pietro já sem forças, recordava os que se perdiam na obscuridade do passado e dos amigos numerosos que tivera e ali não via.
Uma súbita aparição retira-o dos devaneios; a "Vaidade" viera despedir-se. "Aqui o abandono, amigo, já que minha amizade é apenas terrena e volúvel. Proporcionei-lhe em vida um sentimento de superioridade para com os demais; notoriedade nos meios sociais; elegância notável; tornei-o alvo dos olhares femininos ciosos de sua companhia. É finda minha missão. Adeus! Parte em paz!"
Uma segunda visita se anuncia como sendo a "Ambição" que viera se despedir. "Durante toda a sua vida fui sua amiga inseparável; o impulsionei, não raro esmagando desumanamente àqueles que portavam à sua frente, num egoísmo ímpar, sempre aumentando desvairadamente sua fortuna e bens. Para onde ides, não sei!... Certeza, entretanto tenho, de que minha força e amizade só tem sucesso e ação na vida terrena. Adeus e felicidades".
Em silêncio alguém esperava a sua vez de despedir-se; apresentara-se como sua grande amiga a "Luxúria" e assim se expressara: "Adeus meu bom amigo; deixo-o sem o mínimo remorso, pois sempre servi-lhe com a máxima deferência, jamais permitindo qualquer desejo sexual vosso, por mais aberrante, não fosse atendido. Minha força não ultrapassa as fronteiras da terra".
Amargurado com o abandono, Pietro cerra os olhos para a vida. Mais tarde, sua alma livre do corpo, acompanha com interesse seu majestoso enterro. Enquanto eram pronunciados os discursos de despedidas, ela permanecia sentada sobre a tampa, ouvindo com um sorriso irônico o enunciar das qualidades que jamais pensara e soubera ter possuído na vida. Surpreendeu-se, de repente, com a visita inesperada de uma personalidade que se dizia o "Dinheiro", e dirigia-lhe estas palavras: "Caro Pietro. Tornei-o o homem mais poderoso da cidade. Consegui, pela minha influência, cercá-lo de admiradores, criados, mulheres, luxo e conforto, inclusive aqui, na sua última morada, feita de Carrara e ornada de ouro. Mas aqui finda meu trabalho, pois minha força só é válida na terra. Adeus"!
A alma de Pietro sofreu então brusca mudança, passando para um ambiente desconhecido, pleno de trevas, onde nada se podia divisar à sua volta. Sentiu-se apossado de inquietação e de medo. Tremia, sofrendo a tortura do nada. Desesperada, divisou ao longe uma particular luz que se ia aproximando. Em poucos instantes transformara-se em intensa luminosidade, dela emergindo a figura simpática de um cidadão que se dizia representar as "Boas Ações", e a ela dirigia as palavras: "Não vim despedir-me Pietro, pois para isso não fui criada. Minha amizade é mais sólida e não tende ao abandono. Ao contrário, onde estiver um companheiro, lá estarei também. Vinde comigo que serei seu cicerone. Aqui, nesta nova fase de sua existência, mostrarei-lhe as maravilhas que só são proporcionadas àqueles que nos conheceram".
Então seguiu Pietro o único amigo que a ninguém abandona e é o salvo-conduto e a verdadeira senha para o ingresso no Templo Celestial do Grande Arquiteto do Universo.

Texto extraído do Livro "A Iniciação Maçônica" do Ir.'.Ivan Segura, M.'.I.'. da Loja União Sete nº 313, GLESP. 

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